Tô vendo tudo, tô vendo tudo Mas fico calado, faz de conta que sou mudo
Um país que crianças elimina Que não ouve o clamor dos esquecidos Onde nunca os humildes são ouvidos E uma elite sem Deus é quem domina Que permite um estupro em cada esquina E a certeza da dúvida infeliz Onde quem tem razão baixa serviz E massacram-se o negro e a mulher Pode ser o país de quem quiser Mas não é com certeza o meu país
Um país onde as leis são descartáveis Por ausência de códigos corretos Com quarenta milhões de analfabetos E maior multidão de miseráveis Um país onde os homens confiáveis Não têm voz, não têm lei nem diretriz
Mas corruptos têm voz e vez e biz E o respaldo de estímulo em comum Pode ser o país de qualquer um Mas não é com certeza o meu país
Um país que perdeu a identidade Sepultou o idioma português Aprendeu a falar pornofonês Aderindo a global vulgaridade Um país que não tem capacidade De saber o que pensa e o que diz E não pode esconder a cicatriz De um povo de bem, que vive mal Pode ser o país do carnaval Mas não é com certeza o meu país
Um país que seus índios discrimina E a ciência e as artes não respeita Um país que ainda morre de maleita Por atraso geral da medicina O país onde a escola não ensina E hospital não dispõe de Raio-X Onde a gente dos morros é feliz Se tem água de chuva e luz do Sol Pode ser o país do futebol Mas não é com certeza o meu país
Tô vendo tudo, tô vendo tudo Mas fico calado, faz de conta que sou mudo
Um país que é doente e não se cura, quer ficar sempre no terceiro mundo Que do poço fatal chegou ao fundo, sem saber emergir da noite escura. Um país que engoliu a compostura, atendendo a políticos sutis, que dividem o Brasil em mil "Brasis", pra melhor assaltar de ponta-a-ponta, pode ser um país do faz-de-conta, mas não é, com certeza, o Meu País. Tô vendo tudo, tô vendo tudo Mas fico calado, faz de conta que sou mudo
Tô vendo tudo, tô vendo tudo Mas fico calado, faz de conta que sou mudo Calado..calado...mas tô vendo tudo
Um país que dizima sua flora Festejando o avanço do deserto Pois não salva o riacho descoberto Que no leito precário estertora Um país que cantou e hoje chora Pelo bico do último concriz Que florestas destrói pela raiz E o grileiro de porre entrega o chão Pode ser que ainda seja uma nação Mas não é com certeza o meu país.