No dia que o caminhão Chegou na nossa morada Desceu a estrada de terra Fez manobra na invernada O negócio que fizemos Foi de porteira fechada Só vai as coisas da casa E o resto não vai mais nada Saí pra porta do fundo Pra despedir do meu mundo Da minha terra adorada
Pra ninguém não perceber Sequer eu fechei a porta Desci beirando a cerquinha Que sai no fundo da horta No mangueirão da porcada Eu passei cortando volta Igual um chefe de estado Que o escoltador escolta E um bando de anu branco Escoltaram eu do barranco Da minha ida sem volta
Fui margeando a capoeira Do lado esquerdo a invernada O relinchar do tordilho Me olhando e dando risada Parecia que dizia Sua atitude é furada Você vai sofrer bastante Longe da tua terra amada E o canto de um bem-te-vi Na copa de um timburi Fez eco lá nas quebrada
Voltei de novo pro pasto Me desviando dos galhos Com o ramo eu fui batendo Aquelas moita de orvalho Gritei, tordilho vem cá Ele desceu pelo atalho Beijei a cara comprida Do meu herói de trabalho E ali sozinho eu chorei Depois com a mão alisei Aqueles pelos grisalhos
Juntei a mão na biquinha Três golo de água e bebi E foi assim desse jeito Que dela me despedi No mastro de Santo Antônio Parei de novo e pedi Meu Deus me abra os caminhos Num lugar longe daqui Me despedi desse jeito Com a mão direita no peito Do lugar onde eu nasci