VITOR PI VIM EM TUPI PRA ENTUPIR DE IDEIA A CABEÇA DE TODA TRUPE Em tupi, entupiu Canibal deglutiu Tio samba aglutinou Tu que viu, viu Quem viu, quem degustou Gostou do que sentiu Digeriu, arrotou Canja de laranja, casca de galinha Isca de polícia, farda de sardinha A carapuça serviu A batina caiu Bloco carnavalesco, pitoresco Brasil VITOR PI VIM EM TUPI PRA ENTUPIR DE IDEIA A CABEÇA DE TODA TRUPE Pintura rupestre, tinta nanquim Índio nordeste, tupiniquim Camisa da Levi’s e calça jeans No lugar de flecha, bala e fuzis Sequestro do chefe da fundação Na mesma língua, sem confusão Na mesma moeda, a negociação Capital estrangeiro, pajé, capitão Pé d’água, toró, como chovia De português, o tupi se vestia Se fosse no sol, tu se despia E dispensaria a hierarquia VITOR PI VIM EM TUPI PRA ENTUPIR DE IDEIA A CABEÇA DE TODA TRUPE No verso aversão à imposição Servo, sou não, faço a exposição Sobre condicionamento e catequização Pobre estamento, mais injusta divisão Nobres no convés e os negros no porão Conte de um até dez e prenda a respiração Quem controla o passado tem o futuro à mão Conheça sua História, não durma, irmão Fique esperto, liberto de qualquer exploração Mais perto do certo, andar com atenção Antropofagia pra fugir da tensão Sardinha no cardápio pra fazer a digestão Como não? Como sim, é apropriação Nossa risada no fim tem mais sensação A resistência é a própria ação A hora da virada é a nossa sanção VITOR PI VIM EM TUPI PRA ENTUPIR DE IDEIA A CABEÇA DE TODA TRUPE Vitor Pi, vim em tupi, pra entupir de ideia a cabeça de toda trupe Vitor Pi, versão tupi, pra entupir de ideia a cabeça de toda trupe
A célula desta letra surge numa certa madrugada quando eu pulo da cama com os versos do refrão martelando minha cabeça, levanto para anotá-los e posteriormente fazê-los martelar a cabeça de toda trupe. A letra em si é um aglomerado de situações que nos fazem Brasil, os sincretismos racial e cultural da miscigenação índio, preto e branco, e como a colonização se moderniza a cada dia. Situações que dirigem a temática do disco como um todo, então essa música vem logo como uma porrada depois da faixa de introdução para apresentar o que vai ser a obra. Há nesta letra, na terceira estrofe, um verso (quem controla o passado tem o futuro à mão) que é uma referência à obra 1984, de autoria de George Orwell, nessa obra ele diz que "quem controla o passado, controla o futuro; quem controla o presente, controla o passado". Há também uma referência (uma deglutição) a um poema de Oswald de Andrade intitulado “Erro de português”, no final da segunda estrofe, observem. Eis o poema: Quando o português chegou Debaixo duma bruta chuva Vestiu o índio Que pena! Fosse uma manhã de sol O índio tinha despido O português