E o que foi tragado na travessia do Oceano? É uma certeza que afunda
Dúvida ancestral confusa. Profunda
Invisível à luz fraca e à mesa farta Saudade sufoca: lágrima, carta Não há força que faça que eu parta Não há história pra contar no mapa É o corte da faca, marca barata, ingrata Graxa, vassoura, cimento, mão abstrata Cabana, barraco, cubico, bairro-de-lata E a casa-de-banho é o ganho da dor que o maltrata
Se a vida é troca, meu Nobre Por que o resto é o que nos sobra, meu Nobre Por que... O resto é?
O andor, a igreja, vela da beata Braço de obra, lixo, escultura de prata Cama arrumada, roupa lavada, passada Passeio do cão, vinco nas calças do diplomata
Sem escola, sem voto, sem aldeia Sem garantia ou partilha da ceia São reis esticando arame São orixás suspensos no andaime
É... Há um muro de contenção, meu Nobre Praga que apaga, fachada inaudível fronteira fechada Intangível lei, incrível! A gente mesmo paga Sombra sem dono (o assombro no abrir da porta...) Torta linha, morta via (corta!) E a carne do dia: menina vadia E sem os invisíveis do sistema o que seria A mexer a farinha nos porões da pastelaria, hein?
Oxalá, meu Pai. Tenha pena de nós, tenha dó A volta do Mundo é grande, seu poder é bem maior
E o que foi tragado na travessia do Oceano? É uma certeza que afunda Dúvida ancestral confusa. Profunda Por que, que é? O resto é. O resto é!