Vinícius Terra
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Máscaras de Azulejo

Vinícius Terra


Sou a letra A - última: Flor-do-Lácio
primeira a ver seus passos
Passeio, olhar no passo, teu seio alimento, embaraço
A bruxa na Inquisição, transportada à escravidão
A mucama a olhar pro chão, cruz, caravela, distorção
História mal contada, a roupa mal passada
Garganta amordaçada, carne estrangulada
Retalhada, calada, abafada, abusada
judiada, malvada, desejada, mal amada, mas
Eu sou aquela... Eu sou a fera... A trela, a outra, a cela
Índia, serra... Ásia, ilha, África, bela
Península, planície, praia, favela. Ela
Guarany, Tupy, Kaiwoá à espera de quem nunca virá
nunca dirá, nunca amará
Areia, terra, água, mar, ar
Em falta, na boca de quem prova
Falta trova, rainha? Eis aqui tua prova

A batalha é o meu canto. Enxugava o meu pranto
Embalava o meu sonho. Encantava o meu sono

Máscaras de azulejo escondem o desejo
Mamãe, não vejo no meio do cortejo rugas turvas
rua com defeito
Curva nua sinuosa, mas ainda é velado o preconceito
E que o ventre seja o espelho contrário a todo medo
Verdade-véu seja a sonoridade da sororidade
Vontade, signo da palavra igualdade
Florbela Espanca, Cora Coralina
Carolina de Jesus, Noêmia de Sousa
Alda Lara, Cecília Meireles, Filomena
Embaló, Vimala Devi, Manoela Margarido
Sou sim: em si, em mim, em ti!
Sou todas as mulheres que li, ouvi, senti!
Sou cria das entranhas, filhas, irmãs
Rara rima, bandeira, poesia, novas manhãs!
Que o ventre seja o espelho contrário a todo medo
Embalava o meu sonho... Encantava o meu sono
Que o ventre seja o espelho contrário a todo medo
Embalava o meu sonho... Encantava o meu sono
A todo medo, a todo medo, a todo medo
contrário a todo medo
A todo medo, a todo medo, a todo medo
a todo medo, a todo medo

Composição: Vinicius Terra, 2F U-Flow

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