Vidal Assis
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Baderna da Glória

Vidal Assis

Álbum de Retratos


Já faz tempo o batizado
Garanto não ser chalaça
No cálice bento a cachaça
Fez a vez do vinho sagrado
Eu caí em tentação
No primeiro sacramento
A roupinha de pagão
Virou emplastro e unguento
De mirra, mijo e marafo
E como se fosse um Te-Deum
Cantaram um samba na igreja
Era Ataulfo ou Noel?

E a gente sentia no bafo
A força da tal patuleia
Quando após o santo ofício
Foi-se aos pastéis com cerveja
E um coro desafinado
Cantava Saudades da Amélia

Recitativo

Algum tempo depois
Eu, aquele menino
Numa taberna de glórias
Entre pastéis, empadinhas
Eis que ouvi um Benguelê
(Eram grilhões e senzalas
De uma África inteira
Que em renda e alfazema
Se corporizava ali
Corimas e caxambus
E cantos de pastorinhas
E jongos, lundus, ladainhas)
E disso guardei memória
Do seu Outeiro
Desceu em Glórias
Clemente Senhora
Cantando um Agnus Dei

Num silêncio de Oratório
Fez então seu ofertório
Meus olhos verdes benzeu
E formou-se a procissão
E eram negros
Pastores, pastoras
Mulatos, ateus e carolas
Judeus, mães-de-santo
Mulheres da vida
E homens da vida também, enfim
E no andor, Mãe Quelé
Comandando os excluídos
A mais fina flor da melhor ralé!

Quanto de amor e doçura
Deu-me aquela criatura
Quando seu canto de fé espargiu
Naquela baderna, na Glória
Outra voz tão linda assim
Nem mesmo Deus eu acho que ele ouviu!

Composição: Vidal Assis/Hermínio Bello de Carvalho

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