(Ty-Rap) Chorando parado com o corpo paralisado Olho as paredes com as fotos no tijolo embolsado Lembro da minha mãe, lembro do meu do moleque Que fui forçado a deixar por um copo de pileque Catando lata e papelão, largado na rua como saco no lixão No lixo eu canto pra me alimentar as migalhas estragadas quem será que vai me acompanhar? Nesse banquete enrolado Com papel higiênico usado que tem que ser separado Tanta gente que me reconhece e vira a cara e mostram os dentes e não fala nada Eu bebi e nunca me esqueci de quem eu era antes e como eu vivi O melhor amigo do homem me acompanha Quando estou deitado se chegar perto ele avança
Se gritar! Pode correr Não ameaça irmão O latido de quem sofre pra comer
(Joss) A rua é crua, minha vida é nua em cada parte do mundo eu grito minha loucura Cantando maluco beleza, tragédia, tristeza, sem lar e a carne podre que eu tenho que comer que engolir sem vomitar Porque se eu comprar não sobrar dinheiro pra beber minha birita E aí vou acordar, e então observar o quanto minha vida é tão nada bonita Hoje estou longe daqueles que se diziam meus parceiros que sumiram ao mesmo do que todo o meu dinheiro Mas tenho meu fiel amigo que ao contrário de muita gente Mesmo sem ser gente sempre fecha comigo pro que der e vier Seja no calote ou a pé fazendo a jornada nesse solo moribundo Humano e Cachorro, sem qualquer socorro verdadeiros amigos vagando esquecidos pelo mundo
Se gritar! Pode correr Não ameaça irmão O latido de quem sofre pra comer
(Ty-Rap) Perdeu um olho, era manco de uma perna Se fosse criado no canil, seria deixado numa cela Mas hoje eu sei que sua companhia é eterna Que bom que te encontrei naquela favela Numa briga por comida que me envolvi O meu leal amigo começou a latir Como se soubesse o que estava acontecendo Foi aí que percebi que ainda tinha sentimento
Se gritar! Pode correr, não ameaça irmão O Latido de quem sofre pra comer
(Joss) Um momento parei, e não aceitei Simplesmente darei uma quentinha de presente Mas eu não hesitarei, O ódio me tomou eu só queria dar um fim naquele indigente E de repente minha mente só girava em vingança E a melhor forma de fazer era fingindo aliança Mas só fingir, é claro, não sou nenhum otário Agora esse desgraçado vai me pagar caro Vai vendo, finjo fazer as pazes de modo sereno Ofereço parte da quentinha com veneno Eu duvido que ele vá recusar Eu sei o que é morar na rua e é mais difícil com um cão pra alimentar
(Ty-Rap) Não guardo magoas nem dos meus pais Meus parentes me deixaram pra trás Toda forma de ajuda pra mim não é pouco Agradeço por todo o seu esforço Tô com fome tenho que aceitar Quando é de coração deus só tem que te abençoar Sento na calçada com as pernas estiradas Fiel observa com um olhar, de fome O que vou fazer? Apenas retribuir o seu nome Insatisfeito ele comeu tudo E logo após caiu todo se tremendo Não acredito, que ta acontecendo? Que porra é essa? Levanta fiel Essa vaga era minha, e não pra você O que deveria se um momento de sorte Se tornou o seu ultimo suspiro de morte
O nome do meu cachorro era fiel (Infelizmente atacado pela maldade do homem) Foi morar no céu (Pelo menos meu amigo não vai sentir mais fome)