Dois homens se encaminham para o telefone O grande desejo de um deles É falar com sua mãe)
Alô! Telefonista? Por favô, insista! Hem? Eu sei que lá não tem É casa de pobre
Mas no vizinho do lado tem telefone ligado Vamo home, o seu tempo vai se esgotá! Tenha paciência, lhe peço por clemência Já mandaro chamá, não vai demorá
Alô! Alô mãe! É a senhora? Tá me escuitando? Sô eu que tô falando Ah! conheceu minha voz E que abençoe a senhora tamém Pra senhora tamém, mãe! Pra tudo nóis
Vamo rapaiz, tá demorando! Tenha paciência, é cá minha mãe que eu tô falando Como é que a senhoria dizia? Não, quem tá caducando sou eu
Agora é difíce, ando ocupado Mais eu vô quarqué dia Como é mãe? Ham, tô iscuitando! Sim, já sabia. É, me contaro
Mais coitado, mãe, parô de sofrê Ô mãe! Do que que o pai morreu? Como? Desgosto? Como ansim? De mim? Anda depressa home, eu não posso ficá esperando Tenha paciência, amigo Ela é veínha, eu preciso explicá
Como é mãe? Como falô Não, que pressa que nada A vida tá meia forgada Tô rico, mãe, com dinheiro sobrando
Mas como é que tava falando? Sei, sei! Mas eu nunca desgostei Como? Roubei? Quem lhe contô? Que matei? Nunca, mãe Eu sô um cabôco normá Ah! a senhora leu num jorná É mentira, mãe, ou intão é engano
Vamo acabá, tá demorando Minha senhora, o seu filho é Pelo amor de Deus, ela sofre do coração Como é que a senhora perguntô? Se ele mato? Minha senhora, seu filho era
Ela tá ouvindo Deixa ela pensá que eu sempre fui um bão menino O sinhô tamém tem mãe, seu doto Esse é o úrtimo presente que eu posso lhe oferecê A mentira que tô contando Por misericórdia, não deixa a veínha sofrê
Sim, minha senhora! Tô escutando É, é um grande amigo dele que tá falando Sim, falô! É, é rico, tem dinheiro Não, não é doutor, ele é, é fazendeiro Como?
Não diga que eu tô acabado Não, tá forte, bem tratado O prazer foi todo meu, obrigado Pra senhora também. Não há de quê
Diga, que foi que a minha mãe falô? Lhe abençoo e um beijo mandô pra eu lhe dá Agora pode me levá Muito obrigado, seu delegado