Oswaldo Montenegro
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Samba da Benção

Oswaldo Montenegro

Letras Brasileiras


Uma vez Menescal encontrou Tom Jobim pescando. Aí nosso Antônio Brasileiro pediu ajuda:
Menesca, me ajuda aqui. Menesca foi ajudar. De repente observou: Tom, tá faltando iscas nos anzóis!
E Jobim respondeu: Que isso Menesca? Eu não uso iscas. Já pensou machucar os peixinhos...
Tava ali o poeta do Brasil!

Drummond escreveu que “muitos fizeram poesia, mas só Vinícius de Moraes viveu como poeta”. Então tinha que ser com ele o fecho desse disco. Mièle falou pra gente: Ainda não inventaram final melhor do que o Samba da Benção.
Vamos terminar com Vinícius que falou que “amar é vontade de ficar perto se longe e mais perto, se perto.”

É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é melhor coisa que existe
É assim como a luz do coração
Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
É preciso um bocado de tristeza
Senão, não se faz um samba, não

Senão, é como amar uma mulher só linda. E daí? Uma mulher tem que ter qualquer coisa além da beleza. Qualquer coisa de triste, qualquer coisa que chora, qualquer coisa que sente saudade. Um molejo de amor machucado. Uma beleza que vem da tristeza de se saber mulher, feita apenas para amar, para sofrer pelo seu amor e pra ser só mulher.

Fazer samba não é contar piada
Quem faz samba assim não é de nada
O bom samba é uma forma de oração
Porque o samba é a tristeza que balança
A tristeza tem sempre uma esperança
A tristeza tem sempre uma esperança
De um dia não ser mais triste não

Feito essa gente que anda por aí brincando com a vida. Cuidado companheiro! A vida é pra valer. E não se engane não, tem uma só. Duas mesmo que é bom ninguém vai me dizer que tem, sem provar muito bem provado, com certidão passada em cartório do céu e assinada embaixo: Deus. E com firma reconhecida! A vida não é brincadeira, amigo. A vida é arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida. Há sempre uma mulher à sua espera, com os olhos cheios de carinho e as mãos cheias de perdão .

Ponha um pouco de amor numa cadência
E vai ver que ninguém no mundo vence
A beleza que tem um samba, não
Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
E se hoje ele é grande na poesia
Ele é negro demais no coração

Eu por exemplo, fã do capitão do mato Vinícius de Moraes, poeta e diplomado o branco mais preto do Brasil, da linha direta de Xangô. Saravá! Saravá!
Sua benção, Vinícius! Tu que de tanto talento nasceste no plural. Sua benção!
Sua benção, Noel, que tens flor no nome!
A benção, Dolores, plural de mulheres!
Sua benção, Caymmis, Buarques e Tons!
Sua benção, Beto Brasiliense, Belchior!
Sua benção, Paulinho da Viola! Todos letristas que a gente ouviu, meus amigos, meus heróis. Sua benção, Gilberto Gil! A benção a todos os poetas ausentes! Não cabia todo mundo.
Mario Quintana falou que não tem porque interpretar um poema; o poema já é uma interpretação. Poesia a gente não define. Sua benção, Quintana!
A benção, Roberto e Erasmo! Sua benção, Lamartine!
A benção, Menescal que reuniste comigo todos esses, que botaram nas Letras Brasileiras o que a gente sentiu e nunca conseguiu dizer. Sua benção a quem aparecer! A benção! Aos que virão, a benção! A quem já foi, a benção!
Vam’bora Menesca, pescar sem isca... pescar sem isca... Sua benção!
Valeu! Valeu!

Composição: Vinícius De Moraes, Bad Powell

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