Nic Dias

Degrau

Nic Dias


Quem nasceu no desafeto
Hoje chora no escuro
Não falar do que se sente
É construir um muro

Bebo da mágoa como água
Por fora escorre
Me afogo em dores antigas
Hey! Quem me socorre?

Minha mãe sangrou e eu tão pequena
Desejando a morte
Perdoa-me é que as vezes
Eu não sou tão forte

A carne mais barata
Carne dura, carne preta
Foi nossa pele escura
Minh'armadura em frente as treta

Em pranto e desespero
Orando de joelho
Abri o olho, enxerguei Deus
Quando me olhei no espelho

Sei contar das noites em alerta
Vigiando o quarto
Me perguntando se a minha mãe
Cê não tinha matado?

Falei que "amor não é perdão"
Pra alguns é desculpa
Sobreviver no inferno
Como se fosse minha culpa

Não sabe do que eu vivo
Não fale o que não sabe
Senti aos 12 com que aos 20
Irmão, tu ainda não sabe

Eu vou fazer a denúncia pra quem? Hei
Se a polícia, nos mata também? Aham
190 é o número de espera da tua morte
Jogam roleta russa, se nós vive, então é sorte

Te empurrou mais uma vez?
Vai te empurrar de novo
Te bateu mais uma vez?
Vai te bater de novo
Não foi a escada, foi tua mão covarde
Mentiras que não cicatrizam, ódio no peito arde!

Cê ia ficar assustado
Com as coisas que eu já vivi
E ainda me diz que a vida é fácil
Tá difícil, fi

Rezei o pai nosso
Pra não passar fome
"Ninguém atende"
É que de pai ele só tinha o nome

Pra quem num entende
A solidão que é não ser amado
Acha que é prazer pros pivete
Andar com a morte ao lado

Somos gigante diante deles
No final, é normal
Pra quem sempre fez
O Everest parecer degrau!

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