Def Leppard, Kiss, Ratt, Mötley Crüe, e também Journey, ZZ Top, Yes e Pìnk Floyd, esses foram alguns artistas cujos discos entraram na lista de melhores de 1983 segundo a Kerrang!, uma das principais revistas dedicadas ao rock pesado.

Esse parágrafo serve para mostrar como era o "planeta heavy" quando o primeiro LP de uma banda que iria mudar radicalmente, não só o metal, mas o mainstream musical nos anos seguintes. "Kill 'Em All", a estreia do Metallica, chegou às lojas em um 25 de julho de 1983 e, certamente, ninguém imaginou que nascia ali, além de um novo gênero, uma das maiores bandas da história, e não só do metal.

Sim, não se nega que Venom, Anvil e, claro, o Motörhead, para não falar nas bandas de hardcore, mostraram que era possível trazer ainda mais peso e velocidade para o rock do que se podia imaginar, mas foi o quarteto de Los Angeles, que escolheu São Francisco como sua "cidade sede", que apontou os caminhos para o que ficaria conhecido como thrash metal.
Metallica

"Kill 'Em All", com seus riffs velozes e zero concessões, é tido como o primeiro álbum do thrash, algo que poucos contestam. Como diz o especialista Martin Popoff, ficou claro que aqui se ouvia "algo deliberadamente novo, um som marcado pela precisão e um novo tipo de vocal."

O crítico fala que nem tudo no LP é revolucionário ou inovador, mas que em vários momentos, James Hetfield, Lars Ulrich, Cliff Burton e Kirk Hammett, o guitarrista que substituiu Dave Mustaine, que formaria o Megadeth, apontaram para onde as coisas iriam seguir dali em diante, especialmente em "Whiplash", "absolutamente a primeira canção thrash por excelência."

Claro que uma música tão violenta, e diferente, não atraiu a atenção, e simpatia, de imediato. Ainda assim, "Kill Em All" não passou batido. Longe disso. Em 1984, o álbum já tinha vendido 60 mil cópias ao redor do globo e abriu caminho para que outras bandas, especialmente o Slayer, Anthrax e o já citado Megadeth, se popularizassem.

Nada mal para um disco lançado de forma independente, pela Megaforce Records, e que não chegou em todos os territórios.
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No Brasil, por exemplo, ele só ganhou uma edição oficial em 1987, quando o grupo já era visto como um dos mais inovadores e em ascensão do mundo heavy. Por outro lado, o fato dele ter circulado por aqui em uma edição pirata, assim como "Ride The Lightning", o LP posterior de 1984, mostra que muitos headbangers do país já sabiam que ali estava a vanguarda do estilo.

Desnecessário também dizer que, pouco a pouco, o quarteto se transformou na maior banda de heavy metal do planeta e uma das raras do gênero a entrar no Rock and Roll Hall Of Fame, e apenas em seu segundo ano de elegibilidade (basta dizer que o Black Sabbath esperou 12 anos para "ser aceito").

E quanto a Kerrang!? A revista não ignorou o fenômeno nascente e deu espaço para o thrash. Ainda em 83, a publicação entrevistou o Metallica, e, no ano seguinte, já lhes colocou na capa.
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"Master Of Puppets", o terceiro álbum (1986), marcou a primeira entrada deles na lista de "melhores do ano" (no terceiro lugar), e em duas ocasiões eles encabeçaram o ranking dos críticos da publicação: em 1991, com o "Álbum Preto", e em 2008, com "Death Magnetic". Prova que além do público, o grupo pôde contar com o apoio da imprensa musical, um apoio que logo se estenderia também para as publicações não especializadas em metal.

Ouça "Kill 'Em All":