A carreira de Jô Soares, morto ontem (5) aos 84 anos, foi muito além de televisão, onde fez muita comédia antes de ganhar seu talk show. Verdadeiro "homem da renascença", ele também, entre outras coisas, foi artista plástico, escritor, diretor (de cinema e teatro), músico e compositor. No mundo discográfico ele também deixou a sua marca, ainda que de maneira discreta, mas com vários momentos, no mínimo, curiosos. Veja alguns discos que levaram o seu nome.

"Em Tempo De Jazz Volume 1" (LP de 1956)
Jô Soares

De longe, o mais mítico, e raro disco com a presença do "Gordo". Esse LP, lançado em 1956, é considerado o primeiro de jazz feito no Brasil. Os músicos foram arregimentados pelo jornalista Paulo Santos entre o pessoal que participava de animadas jam sessions em clubes cariocas. O trabalho conta com a presença de artistas que fariam história na música do Brasil, e do mundo, como Paulo Moura, João Donato e Luizinho Eça. Jô, ou melhor "Joe Soares" toca o seu bongô em "Scarlett's Gone".

"Em Tempo de Jazz" é tão raro que, nem no YouTube, onde quase qualquer disco já lançado pode ser achado, ele se encontra disponibilizado (ao menos até a data de hoje). No site Discogs, apenas três usuários dizem possuir uma cópia.

"Vampiro" (compacto de 1963)
Jô Soares

Outra raridade, esse 7 polegadas traz dois rocks bem ao estilo anos 50, com direito a solo de sax, letra divertida e aquele clima de "Rock Around The Clock".

"Norminha"
Jô Soares

Lançado em 1972, quando Jô já era uma estrela do humor, esse LP traz o comediante encarnando uma de suas personagens então mais famosas em um trabalho bem-humorado, com músicas em diversos estilos (soul, jazz, rock primitivo...). O álbum foi relançado em CD na primeira década deste século e suas músicas estão no YouTube, mas não no Spotify.

"A B... e Outras Estórias" 1980
Jô Soares

Em 1980, Jô já era um superastro do humor televisivo, não a toa, no ano seguinte, ganhou um programa só seu, o "Viva O Gordo" - um dos mais vistos de toda aquela década. Os seus shows solo também faziam imenso sucesso e esse LP deu a oportunidade para que todo mundo, quer dizer os maiores de 18 anos, pudessem saber como era, ou ter de recordação, um de seus espetáculos.

Claro que, mais de 40 anos depois, boa parte dessas piadas envelheceram, o que não impede que o álbum ainda tire algumas risadas de quem o escuta e que leve o ouvinte a entender um pouco do clima do país naquele começo de década em que a ditadura militar começava a arrefecer, ainda que a espera por um governo civil, e as eleições diretas, tenha demorado um bocado.

"Capitão Gay" *(compacto de 1982)
Jô Soares

Ao contrário de Chico Anysio, o outro rei do humor no horário nobre da Globo, Jô tinha o hábito de não repetir os seus personagens a cada temporada do "Viva o Gordo". De forma que muitos tipos inesquecíveis foram vistos apenas durante um ano. O Capitão Gay, ao lado de seu fiel escudeiro Carlos Suely, foi a grande sensação do "Viva O Gordo" em 1982, o que motivou o lançamento de um compacto com a sua música tema.

"Jô Soares e o Sexteto" - 2000
Jô Soares

O jazz manteve-se como a grande paixão musical de Jô por toda a sua vida. Grande colecionador de discos do gênero, ele, por anos, apresentou programas de rádio dedicados ao gênero e, em 2000, lançou esse CD ao lado do fiel sexteto, que também foi quinteto e quarteto, que o acompanhou tanto no "Jô Soares 11 e 30" quanto no "Programa do Jô".

Gravado ao vivo em 1999, o álbum tem Jô tocando trompete e bongô em um repertório formado por standards além de um tema próprio.

"Remix _em_Pessoa" - 2008"
Jô Soares

Jô também adorava os escritos de Fernando Pessoa e deixou isso claro em sua longa carreira. Em 1985 ele participou de um LP em que vários artistas musicaram poemas do grande mestre da língua portuguesa - o time selecionado era bastante eclético, indo de Tom Jobim a Ritchie e de Arrigo Barnabé a Edu Lobo e pode ser ouvido no Spotify.

Décadas depois, em 2007, Jô se debruçou, de maneira mais intensa no trabalho do autor, criando um espetáculo baseado em seus poemas. Soares teve o cuidado de apresentar a peça usando o sotaque português para fazer justiça ao material e o levou, em uma "ousadia", como disse em sua autobiografia, para Portugal.

"Remix Em Pessoa" teve trilha de Billy Forghieri, o tecladista da Blitz, e também virou disco além de um belo especial que pode ser visto na Globoplay.