Há exatos 60 anos, em 12 de julho de 1962, uma banda chamada The Rolling Stones fazia seu primeiro show no Marquee de Londres. No repertório, clássicos do blues e do rock and roll dos anos 50 tocados por um sexteto formado por Brian Jones, Mick Jagger, Keith Richards, Ian Stewart, Dick Taylor e o baterista Tony Chapman. Seis décadas depois, Jagger e Richards ainda estão subindo nos palcos com a mesma banda em um caso único de longevidade.

Com o trocadilho óbvio, muitas pedras rolaram desde aquele dia. Dick Taylor logo abandonou o grupo para focar nos seus estudos - mas logo montaria uma banda que também fez história e seguiu por décadas na ativa: os Pretty Things. Ele foi substituído por Bill Wyman, que tocou baixo na banda até 1993.
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Chapman cedeu seu lugar para Charlie Watts, que por ali ficou até sua morte, no ano passado. O pianista Ian Stewart foi obrigado a deixar o grupo ainda no começo por ser considerado muito feio, mas se manteve fiel à banda tocando em vários álbuns e shows e também atuando como tour manager e gerenciando negócios lucrativos, como o estúdio móvel que ajudou a dar vida a vários álbuns clássicos da história do rock (Deep Purple, Led Zeppelin e Bob Marley foram alguns de seus "clientes").

Brian Jones, que era o líder incontestável nos primeiros anos, morreu em 1969, sendo substituído primeiro por Mick Taylor e, em seguida por Ron Wood, que entrou em 1975 e completa o trio que ainda está na estrada.

A "Maior Banda de Rock and Roll do Mundo" deixou alguns dos maiores singles e álbuns do século 20, mas há tempos não lança mais material inédito com grande frequência.

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O ritmo de produção foi caindo aos poucos. Se nos anos 60 eles lançaram oito álbuns (considerando a discografia inglesa) e vários singles, nos 70 o número caiu para seis. Na década de 80, quando eles quase acabaram, foram cinco discos de material original, e nos 90, apenas dois.

No século 21, houve apenas um álbum de inéditas, "A Bigger Bang" (2005) e um com covers de blues ("Blue And Lonesome", de 2016). A cada ano a promessa de que o próximo álbum irá se materializar é feita, mas os fãs seguem na expectativa. Quando ele sair, esse provavelmente o último disco deles, já que Jagger e Richards estão para completar 78 anos (Wood tem 75).
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Ainda assim, não é impossível imaginar os Stones subindo ao palco pelos próximos anos. Se existe uma banda que segue desafiando a passagem do tempo são eles e, não se surpreenda se, em 12 de julho de 2032, o Vagalume fizer outro especial como esse em celebração aos 70 anos da banda, como já havíamos feito em 2012.

Ouça alguns dos vários discos fundamentais da banda:

"Hot Rocks 1964 - 1971"
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Rolling Stones Os Rolling Stones em 1965

Os Stones lançaram seu primeiro single em 1963, uma cover de "Come On", de Chuck Berry, e o primeiro álbum no ano seguinte. Jagger e Richards demoram para se firmar como compositores, só em 1966 eles lançariam um álbum totalmente composto de canções originais.

Dito isso, não se nega a força de álbuns como "Aftermath" ou "Between The Buttons", mas nesse momento, a banda era forte mesmo nos singles, quando lançam uma série de compactos antológicos, "The Last Time", "(I Can't Get No) Satisfaction", "Ruby Tuesday", "Let's Spend The Night Together", "Jumpin' Jack Flash", "Honky Tonk Women", essas já lançados no fim da década, entre outros, que estão compilados nessa excelente coletânea que avança até o início dos anos 70.



"Sticky Fingers" - 1971
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Rolling Stones Os Stones em 1971

A chamada "fase imperial" dos Stones começa em 1968, com "Beggars Banquet", e se estende até 1972, ano de "Exile On Main St.". "Let It Bleed" (1969) e "Sticky Fingers" (1971) completam esse "quadrado mágico" de álbuns absolutamente fundamentais em qualquer discoteca roqueira que se preze.

Dessa forma, não é tarefa fácil selecionar apenas um deles, mas como queremos avançar na história da banda, optamos por "Sticky Fingers", certamente o mais enxuto deles e talvez o melhor ponto de entrada para quem quer começar o mundo stoniano, também por ele trazer um pouco de tudo que eles fazem de melhor: rock and roll, baladas, blues, faixas mais "viajantes", country rock, folk... está tudo aqui nestas 10 faixas divididas em pouco mais de 45 minutos (ou mais, se você preferir a edição deluxe com sobras de estúdio e faixas ao vivo da melhor fase deles em cima do palco).



"Some Girls" - 1978
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Rolling Stones A volta do visual desgrenhado no fim dos anos 70

Hoje em dia, os álbuns "Goats Head Soap", "It's Only Rock and Roll" e "Black And Blue", lançados em 1973, 1974 e 1975, já podem ser vistos com mais carinho do que na época de seus lançamentos. Nenhum deles é uma obra-prima, mas todos têm músicas brilhantes e outras que merecem ser redescobertas. O fato é que, nessa época, os Stones passam a ser vistos como dinossauros decadentes, mais preocupados em badalar e, no caso de Richards, se entupir de drogas pesadas.

Em 1978, o clima estava pesadíssimo, com Keith correndo sérios riscos de ir para a cadeia por tráfico de drogas e o punk e a disco music apontando novos caminhos para a música pop. Jagger então assume as rédeas e faz a banda gravar um disco que traz os Stones não só abraçando novas influências mas também dispostos a provar que ainda tinham o que dizer.

"Some Girls" se torna o álbum mais bem sucedido deles nos EUA, graças ao single "Miss You", uma fusão de rock e disco music que, ainda hoje, é um momento central nos shows da banda. O trabalho também tem rocks repletos de sujeira, uma balada antológica ("Beast Of Burden"), e muito mais. Só a faixa-título, extremamente misógina até para os padrões deles, não envelheceu muito bem, aliás, nada bem.



"Honk"
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Mais uma compilação, essa resume a banda a partir dos anos 70 e traz amostras dos álbuns lançados a partir de 1980, que variam de qualidade - "Tattoo You", de 1981, é muito bom, enquanto "Dirty Work" (1986) é provavelmente a pior coisa que eles já fizeram.



"A Bigger Bang Live"
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Rolling Stones (Foto: PA Images/DAVID J. PHILLIP/AP)

Como vimos até aqui, os Stones lançaram inúmeros discos fundamentais, mas é no palco que a banda sempre encontrou sua razão de ser. Do ponto de vista estritamente musical e histórico, "Get Yer Ya Ya's Out", de 1970, é o grande disco ao vivo deles. Mas a oferta nesse campo é vasta. A banda está sempre lançando material ao vivo oficialmente, seja em discos próprios ou encaixando a íntegra de shows nas reedições de álbuns clássicos.

Terminamos esse especial então lembrando da relação do grupo com o Brasil com o disco que traz a íntegra do show que eles fizeram na Praia de Copacabana, para estimadas um milhão de pessoas, em janeiro de 2006.

Como já dissemos, os Stones não lançam um trabalho de inéditas desde 2005, mas tomaram o hábito por fazer turnês anuais não muito extensas desde 2012. Esse novo padrão, o de fazer uns 15 concertos por ano ao invés de uma turnê com mais de 90 concertos a cada três ou quatro, está servindo bem ao grupo que assim se mantém constantemente na ativa e sem abusar demais de suas capacidades físicas.