No último sábado (26), o Genesis fez o último show de da turnê "The Last Domino", na O2 Arena, em Londres. Concerto que, tudo leva a crer, foi o último da banda e, portanto, de Phil Collins, o baterista que virou homem de frente e ajudou a levar a banda para o topo das paradas de música pop nos anos 80, ao mesmo tempo em que explodiu com a sua carreira solo.

Collins vem sofrendo com uma série de problemas de saúde e não consegue mais tocar bateria ou ficar de pé por muito tempo. Portanto, assim como fez nos seus shows no Brasil em 2018, teve que cantar sentado.
Phil Collins

O músico se despede dos palcos depois de uma carreira pra lá de vitoriosa, que passa dos 50 anos e envolve muitos álbuns e singles nos postos mais altos das paradas de sucesso dos EUA e Reino Unido, algumas curiosas escapadas fora do mainstream - como quando montou uma banda de jazz rock, o Brand X, produziu um álbum do músico cult John Martyn ou se arriscou como ator.

Ouça algumas canções gravadas por ele, solo ou como integrante do Genesis, que ficarão para sempre marcadas na história do rock e do pop.

"Follow You Follow Me" - 1978
Phil Collins

Com Peter Gabriel nos vocais e Steve Hackett nas guitarras, o Genesis se firmou como uma das maiores bandas do rock progressivo, estilo marcado por composições longas e intricadas, ainda que eles também soubessem compor canções mais simples e diretas. Os quatro álbuns lançado por eles entre 1971 e 1974 são clássicos do rock da década de 70.
Genesis
Genesis A banda nos anos 70

Quando Gabriel decidiu abandoná-los em 1975, parecia que o fim era a única solução, afinal, como substituir um front man tão carismático? Quando foi revelado que a banda iria continuar e com o baterista Collins indo para a frente do palco, não devem ter sido poucas as pessoas que riram da ideia. O fato é que Collins, que já havia cantado em uma ou outra ocasião, era dono de uma voz igualmente forte e também capaz de cantar muito bem as canções de seu antecessor (o álbum ao vivo "Seconds Out", de 1977, deixa isso claro).

Como quarteto, eles lançam dois discos ambos ainda fincados no progressivo, até que Hackett decide também abandonar o barco. O trabalho de 1978, não por acaso chamado "And The There Were Three" ("E Então Sobraram Três), mostrava que uma nova banda estava surgindo. Uma que ainda tinha raízes no art rock, mas que não tinha problemas em tentar se aproximar do grande público, aquele que comprava compactos e ouvia rádio. E a prova maior estava em "Follow You Follow Me", composta pelo baixista e guitarrista Mike Rutherford, o primeiro single deles a chegar no top 10 britânico e entre as 30 mais nos EUA (e que, por aqui, acabou na trilha da novela "Dancing Days").



"In The Air Tonight" - 1981

Com o Genesis tirando um tempo para descansar, os três integrantes partiram para projetos individuais, daqueles que são feitos sem maiores expectativas comerciais. O do tecladista Anthony Banks saiu no finzinho de 1979 e chegou ao 21° lugar na Inglaterra. O de Rutherford chegou às lojas no comecinho de 80 e foi um pouquinho melhor, número 13. Em 1981, foi a vez de Collins e aí, para surpresa geral, especialmente de seus colegas, ele explodiu em todo o mundo. "Face Value" chegou ao número 1 na Grã Bretanha e no sétimo posto nos EUA graças, especialmente, ao seu primeiro single, hoje em dia visto como um clássico indiscutível: "In The Air Tonight".

Uma das canções símbolo dos anos 80, graças especialmente ao seu som de bateria, que nasceu por mero acaso durante alguns experimentos de estúdio, ela abriu o caminho para que Collins se tornasse um dos rostos símbolos da década de 80.

A partir dali, ficou claro que o Genesis não poderia contar com ele por todo o tempo, mas, não se nega, eles se arranjaram bem. Durante a década, a banda lançou quatro álbuns e Collins também quatro. Todos de sucesso.



"No Reply At All" - 1982
Genesis

Collins sempre foi um apaixonado pela música negra e, na década de 80, ele se aventurou com enorme sucesso por esse universo, seja gravando clássicos da Motown (um repertório ao qual ele retornaria décadas mais tarde), dividindo o microfone com Phillip Bailey, do Earth Wind and Fire (na ótima "Easy Lover") e em pelo menos dois clássicos do pop: "I Cannot Believe It's True", de seu segundo álbum solo de 1982, e "No Reply At All", presente no 11° álbum da banda.



"Against All Odds (Take a Look at Me Now)"

Escrita para o já esquecido filme de mesmo nome ("Paixões Violentas" no Brasil), essa balada se tornou o primeiro de sete números 1 consecutivos de Collins nos EUA. Um exemplo típico de hit perene, a música já foi muito regravada - a versão de Mariah Carey também fez um sucesso grandioso. A canção também foi indicada ao Oscar, Globo de Ouro (perdendo para "I Just Called To Say I Love You", de Stevie Wonder) e ganhou o Grammy de performance pop vocal masculina.

Phil Collins


Para ganhar o sonhado Oscar, Collins precisou esperar um pouco. Mas ele chegou em 2000 graças a "You'll Be In My Heart", feita para a animação da Disney "Tarzan", do ano anterior.



"Land Of Confusion" - 1986
Phil Collins

1986 foi, de maneira que ninguém conseguiu entender direito, o ano do Genesis nos EUA. Quando não só a banda, mas até seus ex-integrantes, conseguiram chegar com força inimaginável no mercado americano. "Invisible Touch" pode ter sido ignorado, ou simplesmente xingado, pelos críticos, mas emplacou cinco de suas músicas, de um total de oito, no top 30 dos EUA, incluindo dois números um: a dançante faixa-título e "Throwing It All Away". No mesmo ano, Peter Gabriel também explodiu com seu álbum "So", de longe o mais pop de uma carreira marcada pelo experimentalismo, e até o GTR, banda montada por Steve Hackett com outra lenda das seis cordas do progressivo, Steve Howe, do Yes, conseguiu penetrar, de forma mais discreta, claro, naquele mercado.

Dito isso, se tem uma música, ou mais especificamente, um clipe que remete àquela época quando se fala em Genesis, não tem jeito, é o divertidíssimo "Land Of Confusion", estrelado por versões em boneco de pessoas importantes da época, de Michael Jackson a Ronald Reagan, passando, claro, pelos três integrantes da banda, que vem à cabeça.



Phil Collins


Foi justamente antes desta música que Phil anunciou que aquele seria o último show do Genesis, além de lembrar que ela foi escrita em uma época de guerra fria quando se vivia com medo de um conflito nuclear. Um medo que, em tempos de guerra na Ucrânia, voltou a atormentar o planeta.