O Popload Festival acabou encontrando o seu formato definitivo com a opção por realizar o evento para um único dia (o 15 de novembro) no Espaço das Américas em São Paulo, um lugar grande, mas não gigantesco. A mistura de grandes nomes e revelações do cenário alternativo é igualmente bem vinda. Esse ano não foi diferente, em um evento que foi definitivamente marcado pela consagradora apresentação de Patti Smith, a grande headliner da noite.

A veterana cantora ("Horses", seu primeiro, e fundamental, álbum saiu em 1975) subiu ao palco pontualmente às 20h45 e mostrou em pouco mais de uma hora que não é chamada de lenda sem razão. Antes de voltarmos a ela, vale comentar alguns dos outros shows do dia.

Os Raconteurs, a banda de Jack White e Brendan Benson, chegaram afiados ao palco com seu rock potente, mas também bastante melódico - Benson é um excelente compositor de power pop. Pena que eles só tocaram 12 músicas, oito a menos do que se viu no Chile ou Argentina, onde eles tocaram em show próprio. Mas, apesar do som nem sempre ter colaborado, o quarteto (quinteto ao vivo), mostrou ao público um show de rock de primeiríssima categoria.

O Hot Chip também foi bastante efetivo com sua música dançante e melancólica, uma espécie de atualização para o século 21 do som do New Order. Com vários discos lançados, eles acabam sendo aquela banda que já não são mais tão celebradas, mas mostraram que durante os últimos 15 anos construíram uma discografia sólida e que merece ser revisitada.

Durante a tarde ainda tivemos o bom, e politizado, show do Cansei de Ser Sexy, o primeiro da banda no Brasil em oito anos. Apesar de tanto tempo longe dos palcos, o CSS mostrou entrosamento e Lovefoxxx mostrou que segue como uma excelente performer. O bom pop contemporâneo de Tove Lo, o som instrumental e inclassificável do Khruangbin e a britânica Little Simz também se apresentaram no Espaço das Américas.

E assim voltamos a Patti Smith que começou o show com o som em um volume bem abaixo do ideal, o que levou o público a reclamar, e já entregando de cara "People Have the Power", uma das grandes canções de protesto dos últimos 30 anos. Ao lado de sua poderosa banda, que inclui o guitarrista Lenny Kaye e o baterista Jay Dee Daugherty da formação original, ela seguiu desfilando sucessos - "Dancing Barefoot", "Pissing in a River", uma emocionante "Because The Night", com escolhas menos óbvias, os casos de "Ghost Dance" ou "Beneath the Southern Cross".

O clima de reverência era palpável a Smith se mostrava ora simpática, ora raivosa, ao discursar a favor do meio-ambiente e encorajando as pessoas a tomarem medidas efetivas e ativas contra todo e qualquer tipo de opressão. A questão ambiental é um temo caro à poeta, o que fica explicitado nas cover de "" do Midnight Oil e uma linda "After The Gold Rush" de Neil Young (essa com direito a um tropeço dela logo na entrada, que riu de sua falha).

O final do concerto foi intenso, com as duas primeiras partes de "Land" desembocando em uma explosiva "Gloria", com a cantora segurando uma guitarra, não muito para tocá-la, mas para fazer com que a potencia sonora se amplificasse. Com as luzes se acendendo ao final não foi difícil ver muita gente, e das mais variadas idades, enxugando os olhos. E não por acaso, todos ali sabiam que tinham visto uma apresentação que não se vê a toda hora.