A morte de Michael Jackson há exatos dez anos, é daqueles eventos que quem presenciou não se esquece. Ainda hoje é possível lembrar com clareza aquele início de noite, no horário do Brasil, com as informações desencontradas e, enfim, a confirmação da partida do Rei do Pop, pegando de surpresa fãs, jornalistas e, sinceramente, qualquer pessoa que tivesse vivido o bastante para saber de seu impacto na cultura do planeta das últimas décadas.

MJ morreu em um período de transição do mundo musical, quando muitas das suas atuais forças estavam dando seus primeiros passos no mundo do grande sucesso - Lady Gaga, Katy Perry, Taylor Swift e Adele. O Facebook ainda não despontava com tamanha força - por aqui, por exemplo, a morte foi mais comentada no Orkut e Twitter - e os serviços de streaming ainda estavam longe de serem criados.

Michael assim simbolizava uma época que não mais existia, a dos astros "maiores que a vida", que vendiam dezenas de milhões de álbuns e pareciam viver totalmente alheios à realidade. Uma era estranha, mas que certamente deixou saudades em quem a viveu, e atiça a curiosidade de quem só a conhece através de relatos, arquivos digitais ou vídeos no YouTube.



Mais que tudo, a sua morte serviu como um sinal de que chegaria um momento em que teríamos de dar adeus aos grande ícones da segunda metade do século 20. Algo que novamente precisamos encarar em 2016 com as igualmente tristes e sentidas mortes de David Bowie e Prince - curiosamente, outros dois ícones que também criaram uma aura de mistério sobre si.

A morte de MJ também nos mostrou como iríamos lidar com a ausência dos grandes ícones, com as postagens nas redes sociais e o reencontro com as obras de maior, e também a de menor, importância em uma especie de luto compartilhado. Assim, não foi nenhuma surpresa ver as paradas de sucesso das semanas que se seguiram repletas de discos de Michael nos primeiro lugares.

O que também se percebeu foi uma cautela maior na hora de se lidar com material de arquivo, especialmente depois que o álbum "MICHAEL" de 2010 se viu cercado de críticas e acusações de uso de vozes de imitadores do astro em algumas de suas faixas. Esse álbum saiu entre os únicos dois novos produtos do artista lançados desde então, ambos mais bem sucedidos.



De um lado o documentário "This is It" de 2009, que registrou os ensaios da turnê que nunca houve, e do outro, o bom "Xscape", com material inédito registrado em diversos momentos de sua carreira.



Obviamente não se pode escrever sobre Jackson em 2019 sem que se fale do documentário "Leaving Neverland", lançado no início do ano. Trazendo graves acusações, o filme causou polêmica ao se voltar para as graves acusações de pedofilia que passaram a atormentar o artista nos anos 90.

O fato é que a memória do astro certamente saiu abalada, mas não a ponto de causar danos à sua obra de forma que "Off the Wall" (1979), "Thriller" (1982), "Bad" (1987), além é claro, de suas gravações ao lado de seus irmãos no Jackson 5 (posteriormente The Jacksons) seguem celebradas como o que de fato são: grandes monumentos da música pop.