O Audio Club em São Paulo ficou cheio ontem (4) para o Balaclava Fest que teve o Warpaint (foto) e o Mercury Rev entre as suas maiores atrações. A produtora criou um modelo dos mais interessantes, ajudando a trazer para o Brasil, nomes que dificilmente dariam as caras por aqui em outra situação.

O palco principal teve quatro shows, todos eles começando pontualmente e com o tempo bem distribuído, dando a chance de todos fazerem concertos relativamente longos. Um outro palco para atrações nacionais como o Metá Metá também atraíram um bom público.

Quem abriu a festa, com a pista ainda não muito cheia foi o baterista Barbagallo que também acompanha o Tame Impala - que há alguns anos esteve no mesmo Audio Club.

O francês tocou acompanhado de um trio e mostrou um pop sofisticado (cantado em sua língua pátria) que não esconde o seu débito para com a música dos anos 60, mas que também abre espaço para outras influências posteriores (ele certamente ouviu com atenção os seus compatriotas do Air e o Stereolab, que também tinha integrantes da França em sua formação). O músico mostrou canções de seus três discos e causou boa impressão.

Atração muito aguardada, o Mercury Rev subiu ao palco logo depois para celebrar os 20 anos de "Deseter's Song". O disco de 1998, o quarto deles, os colocou em um novo patamar, tendo entrado em diversas listas de melhores daquele ano (para o NME foi o número 1) e os elevou ao primeiro time do rock independente.

Nesse disco, o grupo já havia deixado a psicodelia barulhenta que marcou seu começo para trás, apostando em uma música onírica e psicodélica que prestava tributo a várias formas musicas norte-americanas. O show de ontem foi marcado pela execução de quase todo o álbum e mais "The Dark Is Rising" (do álbum posterior "All Is Dream"). Apesar do som às vezes estar meio embolado, a banda soube executar de forma competente as canções de um dos últimos grandes discos de rock do século 20, mantendo-se fiéis aos arranjos originais, mas também abrindo espaço para improvisos pontuais, com direito a momentos de puro noise.

Noise aliás foi o que o Deerhunter entregou ao público, naquele que foi, de longe, o show mais barulhento da noite. Se em disco, a banda de Bradford Cox é caracterizada por um som mais melódico, melancólico e que não deixa bem claras as suas maiores influências, ao vivo fica claro que eles nutrem um enorme carinho pelo dream pop dos anos 90 e que o My Bloody Valentine certamente foi bastante importante em sua formação musical.

A apresentação de ontem deixou os fãs que há tempos esperavam por um show deles por aqui satisfeitos, mas ele também teve o seu lado triste, já que antes do concerto a banda anunciou em seu Instagram a morte do ex-baixista Josh Fauver (ele foi o segundo músico que tocou o instrumento com o grupo a falecer).

Mais conhecido do público brasileiro, o quarteto feminino Warpaint mostrou que tem um fã-clube respeitável no país - a pista estava lotada de gente para vê-las. Em sua terceira vinda, as garotas mostraram o seu som que remete ao pós-punk do final dos anos 70/inícios dos 80, com linhas de baixo suingadas e os ritmos bem marcados que se fundem às melodias vocais mais etéreas e riffs de guitarra de grande força. Foi um show com um bom número de músicas, 15, e que passeou por toda a carreira delas - ou seja os três álbuns e o EP de estreia "Exquisite Corp" de 2008.