Por Leandro Saueia

Anualmente em abril ou começo de maio o Centro de São Paulo é tomado prela Virada Cultural. São mais de 100 shows para todo e qualquer tipo de público além de espaços dedicados ao cinema, humor, cosplay e por aí vai. Em 2011 o público estimado foi de mais de 4 milhões de pessoas.
Como sempre, é preciso fôlego e um bom cronograma para tentar assistir tudo de interessante. Não que isso seja exatamente possível já que as atrações tocam em paralelo e em palcos distantes um dos outros. Ainda assim conseguimos acompanhar bastante coisa. Aqui os nossos destaques.

A grande graça de um evento desses é permitir que se assista shows que saem da sua órbita. Ainda que nem todos pensem assim essa é a parte mais divertida da coisa. Foi por isso que começamos a nossa maratona assitindo Fernando Mendes emocionando o povão com suas Menina, Cadeira de Rodas e Você Não Me Ensinou A Te Esquecer que ganhou nova vida após ser regravada por Caetano Veloso. Apesar do som não estar lá essa maravilha esse é o tipo
de show que se garante na empatia do artista com seu público além de funcionar como ótima experiência antropológica para quem só assiste shows de artistas "classe A" em grandes casas de shows ou estádios.

Patricia AsegaChicha Libre letrasChicha Libre

Na sequência em outro palco mais uma grata surpresa. O Chicha Libre vem da mesma cena novaiorquina que nos deu o Vampire Weekend mas se especializou em tocar a "chicha", a versão peruana da cúmbia, com um toque de psicodelia.

O resultado é divertidíssimo e bastante dançante, ainda mais quando o grupo resolve adaptar do tema dos "Simpsons" á "Cavalgada das Valquírias" para o ritmo. Ainda tocaram uma ótima versão para o clássico Alone Again Or do Love.


Patricia AsegaFred Wesley And The J.b.'s letras
Findo o show era hora de correr para ver o grande Fred Wesley (ao lado) o trombonista que ao lado dos J.B.'s acompanhou James Brown nos anos 70. Por cerca de uma hora o público teve uma aula de funk, quase sempre instrumental, com direitos a clássicos da black music como Pass The Peas.

No mesmo palco o público pôde ver um show histórico. Há quem não saiba mas Tony Tornado antes de se tornar conhecido como ator, era um soulman e dos bons.

Toni Tornado
Toni Tornado Toni Tornado
Após décadas longe dos palcos ele agora voltou a cantar e o resultado foi brilhante, ainda mais quando o acompanhamento foi feito por Dom Salvador e sua Banda Abolição, outro grande mestre da black music brasileira e que raramente se apresenta no Brasil (ele está radicado há anos nos EUA).

Com 80 anos Tony não tem mais pique para segurar o show inteiro. É ai que entra em ação o seu filho "Lincoln Tornado" que ao lado de uma banda com cerca de 15 pessoas não deixa o pique esfriar.

Mas o show é mesmo de Toni com brados de "a luta continua e a vitória é certa" (ditos com os punhos cerrados como os Panteras Negras), homenagens a Tim Maia e o resgate de pérolas como Podes Crer, Amizade. O final, emocionante, foi com Br-3 em um show que merece circular mais pelo país. Torçam para que role.

Eumir Deodato
Eumir Deodato Eumir Deodato
A próxima, e última, parada foi para ver Eumir Deodato, o grande músico, produtor e arranjador que também raramente se apresenta no Brasil. Deodato privilegiou seu material mais funky emnadou ver numa versão instrumental brilhante de Do It Again. O final foi com "Assim falou Zaratrusta" - mais conhecido como o tema de "2001" que chegou ao segundo lugar da Billboard - a maior posição já alcançada por um brasileiro na parada de singles americana.


A essas alturas a madrugada já corria e era melhor se recolher já que ainda tínhamos o dia seguinte pela frente. Amanhã a gente conta como foi.