Por Leandro Saueia

MRossiU2 letrasBono e Adam Clayton no dia 09 de Abril no Morumbi
O U2 fez neste sábado a estreia da sua 360° Tour no Brasil. Quem não foi e gostaria de ter ido deve estar perguntando
se perdeu muita coisa. A resposta? Para quem nunca viu a banda, provavelmente sim. O grupo ainda é das mais populares e interessantes ao vivo e vê-los ao menos uma vez é desejável. Agora para quem já teve a oportunidade de conferi-los em suas outras passagens pelo país a sensação de que faltou algo ficou ao final do show.

Não resta dúvida que o "palco garra" realmente é bem sacado, dá uma nova dinâmica a shows dessa dimensão e permite que mais gente compareça, o que em tese significam ingressos mais baratos. Os organizadores também não quiseram abarrotar a pista dando espaço para, tirando o povo do gargarejo, o público curtir o show com espaço de sobra. Ao mesmo tempo a banda parecia mais distante do público e Bono estava bem mais contido que o habitual. Talvez um reflexo da cirurgia da coluna pela qual ele passou no ano passado, o vocalista agora se movimenta menos e não faz tanto contato com a plateia como estamos acostumados a ver.

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Isso não chega a ser algo necessariamente ruim, já que o tempo gasto em afagos ao público ou tirando alguma garota para dançar coladinho pode ser usado para acrescentar mais alguma canção ao repertório. E nem de longe isso quer dizer que ele se calou, longe disso. Rolaram brincadeiras com os outros músicos da banda e uma fã subiu ao palco para ler a letra de Carinhoso. Aung San Suu Kyi que por décadas esteve presa em Burma até finalmente ser libertada, também foi lembrada em Walk On, escrita para ela há 11 anos - prova de que o engajamento da banda (que se aliou à Anistia Internacional na causa) ajuda na conquista de resultados concretos ao contrário do que muitos detratores gostam de dizer.

Mas o show tem alguns problemas. O maior deles está no setlist com poucas novidades em relação ao das turnês anteriores - descontando faixas novas, apenas três canções em todo o show não foram apresentadas no Brasil em 1998 ou 2006. Não se pede para tirar Sunday Bloody Sunday do repertório, mas não está na hora do grupo revirar mais o seu baú, relembrando canções mais obscuras ou sucessos que há tempos sumiram dos shows? E por quê insistir em músicas que castigam demais a voz de Bono (como Miss Sarajevo por exemplo) e prejudicam sua performance e alcance em outros momentos cruciais?

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A banda também costuma encerrar suas apresentações em clima reflexivo. Mas fechar o espetáculo com Moment Of Surrender e o nome das crianças assassinadas estupidamente em Realengo no telão foi mesmo uma escolha sábia? Não teria sido melhor ter feito a homenagem antes ou encerrar o show com uma canção mais popular?
Outro problema foi com o som. Especialmente no começo a guitarra de The Edge estava encobrindo quase tudo, inclusive a voz de Bono.

Mas calma, no geral o show foi bom. Canções como Where The Streets Have No Name, One e I Will Follow seguem poderosas, emocionantes e com o status de clássicas intocáveis e os fãs seguramente irão se emocionar em vários momentos. Também, ao contrário do início da turnê, as músicas de No Line on the Horizon entram com menos constância no show, o que lhes dá mais espaço para serem apreciadas e mostram que a banda segue em evolução.

MRossiU2 letrasThe Edge tocando um de seus riffs no Morumbi
Em resumo, se você for ao show de quarta-feira provavelmente vai se divertir, ainda que saia do Morumbi com um gosto de quero mais. A vantagem nesse caso é que falamos de um grupo que segue na ativa e provavelmente voltará ao Brasil outras vezes.

E agora, qual será próximo passo dos irlandeses? Apostem em uma volta à "simplicidade". O que o U2 mais precisa nesse momento é voltar a ser espontâneo, a não ficar tão preso a marcações e a amarrar o setlist às projeões do telão.

O primeiro passo para isso deve ser o show em Glastonbury em junho próximo onde eles tocarão pelo primeira vez em um festival após décadas.