Se eu vou acordar? Pra mim isso tanto faz É até melhor que não, talvez eu tenha paz Não sou do mal mas invejo uma pá de mano Passando com outros manos, em uns carro do ano
Com umas mina bonita de corpo atraente Infelizmente meu perfil não é conveniente Barbudo e sem dinheiro, sem teto e com mal cheiro O jornal é minha cama, o mato é meu banheiro Por um bando de playboy ja fui agredido Noite passada esfaquearam meu amigo
Porra ja tamo na merda, pra que tanto mal? Carpino seu quintal por moedas de 1 real Te confesso que esse dinheiro vai virar fumaça No cachimbo ou na lata, pra aliviar as mágoas
Mas ela volta, e eu fico mais neurótico, é lógico Preciso de ajuda mas parece que não posso Também sou filho do Brasil igual a você Então me ensina a ler, me ensina a escrever
Quero fazer uma carta pro Seu Presidente Por quê eu não posso ter uma casa decente? Sem ratos e baratas, passando em minha boca Passaram vários dias, estou com a mesma roupa
Me imagino com aquele kit que eu vi na loja Jaquetão do São Paulo, no pescoço umas corda Ai me acordam, com chutes sem compaixão nenhuma Eu só dormi aqui pra me proteger da chuva
É nessas horas que a morte se diz minha amiga Com um remédio pra isso, acabar com minha vida E não é mentira pois aqui somos todos esquecidos Sem um abraço amigo, sem um lar aquecido
Não tenho sobrenome, na sombra destes homens Me alimento do resto que eles saciam a fome Marmita é o meu foco e se pá uns trocados Arrumo no semáforo, peço de carro em carro
Sei que não vai ligar, isso não te importa Eu bato na sua porta e você me ignora A culpa não é sua, mas também não é minha Não queria essa vida, uma chance eu queria
Fui colocado nesse jogo sem aquecimento Vivendo pra morrer, num sofrimento lento Sem tempo de saber qual era minha vocação Professor ou garçom, quiçá cirurgião
Tudo ilusão, minha vocação é roubar com canivete A fome não espera doação de marmitex Isso tudo em cansa mas hoje eu resolvo Se vivo ta difícil, então prefiro morto