Liga o som da sala e agora senta/ Voltaremos pra Mil Novecentos e Noventa/ Vinte Três de Outubro, Sete e meia, sol nascendo/ Olho pra fora e penso: “Quê que tá acontecendo?”/ Descobri, saí da barriga/ Yuri Barros Brandani é o meu nome, se liga/ Mulequinho branquelo, cabeçudo e magrelo/ Das orelha grande, pode rir num apelo/ É assim que eu sou, foi assim que eu nasci/ Saí do hospital, voltei pra casa e cresci/ Lá na Asa Sul nenê engatinha no chão/ Andando de bike com meu pai lá no eixão/ Domingo de sol, bebezinho feliz/ Mais tarde no futebol jogador foi o que eu quis/ Ser, mas a vontade foi ficando pra trás/ Vim morar na Asa Norte pela luta dos meus pais/ Que se esforçaram e trabalharam a vida inteira/ A vida num é fácil meu filho, só canseira/ Tá ouvindo Yuri, curte tudo que puder/ A infância é muito boa, mas passa mané/ Daqui a pouco cê vai ter que estudar pra caralho/ E ouvir o dia inteiro pra arranjar logo um trabalho/ E nem adianta dizer que é adolescente/ Pois eles vão falar que tu se acha, e tu se sente/ O centro do mundo, e tu num é não/ E infelizmente vagabundo não é profissão/ Então vou aproveitar o tempo pra viver/ Não ligo se a mãe briga, porque agora eu vou descer/ Pra brincar de pique-esconde invés de fazer o dever/ Com as amigas e os amigos até anoitecer/ O tempo escorre nas mãos, Outubros se passaram/ No calendário do tempo as páginas já mudaram/
“Zê-I-Gê-Ó-Tê-Ó/ Essa é a minha vida saca só/ Zê-I-Gê-Ó-Tê-Ó/ E na rima eu faço tudo virar pó/”
Obrigado mãe, pelo amor da senhora/ O tempo passou e eu sou assim agora/ Um e oitenta, cabelo ruim, pele branca, magrelo/ Boné, camisão, bermuda, liguinha e chinelo/ Um adolescente de classe-média fudida/ Em um mundo deprimente tentando entender a vida/ Guiado na noite pela luz da lua/ Largado, vivendo a essência da rua/ Sempre ao lado de quem é mesmo amigo/ Que nem o Rei Leão ri na cara do perigo/ A caixa dá a base, o bumbo fortalece/ Encima vai a frase, sonoridade cresce/ Linguagem informal, que sai do pensamento/ Pra ficar mais legal põe algum instrumento/ Seguindo na floresta de cimento, minha trilha/ Ritmo e poesia, é Rap de Brasília/ Agora o vulgo é Zigoto, MC Célula-ovo/ Represento o Hip-Hop sem ter que provar nada pro povo/ E luta pra fazer a minha parte/ Melhorar a sociedade com a arte/ Humildade na atitude, subversão na mensagem/ As ruas do DF no meu grafite, a paisagem/ E nesse grafite cabuloso no muro/ A tinta toma vida e vai mostrando meu futuro/ Vejo um Domingo de sol, como no passado/ Som de passarinhos uma criançada ao lado/ Eu aqui pra sempre, esse ar, esse chão/ Andando de bike com meu filho no eixão/ De barba e dread-lock, perfeito/ A vida é complicada, mas a gente dá um jeito/ Vou sempre pronto pro que der e vier/ As pedras no meu caminho só aumentam minha fé/