No lombo do meu burro picasso Passo dias e meses na estrada Viajando por esse brasil Só comprando e vendendo boiada Não esqueço de uma passagem Um fato muito interessante Numa venda de beira de estrada Parei pra comer E descansar um instante
Um menino de uns dez ó doze anos De chinelo entrava na venda Foi chegando e pediu sé podia Sé sentar ali perto de mim Ó seu moço eu lhe peço desculpa Pois sou pobre e não tenho um tostão Vim pedir o senhor por favor Que me deixe montar um pouquinho No seu burrão
Vendo aquele sorriso criança Resolvi perguntar por seus pais O seus olhos se encheram de água Vi as lágrimas cairem ao chão O meu pai já morreu muito tempo Minha mãe eu nem conheci Com ajuda de outras familias Sozinho no mundo eu sobrevivi
Quando escuto o som de um berrante Ou eu vejo uma boiada passar Em silêncio eu cento num canto Sem resposta começo a chorar Pois sou filho de um homem Que a tempos nesse mundo Só deixou saudade Uma doença lhe tirou a vida Quando ele gozava A flor da mocidade
O senhor faz lembrar o meu pai E o que sempre eu ouço dizer Obrigado por sua atenção Tó feliz por te conhecer Nesse mundo tocando boiada O meu pai foi um grande guerreiro Sigo seus paços Com muito orgulho porque eu sou filho De joão boiadeiro