Foi no sulco da viagem Já sem armas nem bagagem Nem os brazões da equipagem Foi ao voltar
Pátria moratória No coração da história Que consumiste a glória Num jantar
Foi como se Portugal P'ra seu bem e p'ra seu mal Andasse em busca dum final P'ra começar
Ávida violência Reverso da inocência Sal da inconsciência Que há no mar
Império tão pequenino De portulano caprino Bolsos de sina e de sino Em cada mão
Pátria imaginária De concistência vária Afirmação diária Do teu não
As malas dos portugueses São como os olhos das rezes Que se mastigam três vezes Em cada chão
Cândida ignorância Grande desimportância Os frutos da errância Já lá vão
Melodia 2 (solistas, depois coro adulto misto)
Ai Senhora dos Navegantes me valei De África, do sal e do mar só eu sobrei Foi p'ra me encontrar que amanhã já me perdi Longe vai o tempo em que eu já não estou aqui
Ai Senhora dos Talvez-Muitos-Mais-Sinais Socorrei estes desperdícios coloniais Foi na noite fria que o dia me cegou Inda agora fui, inda agora cá não estou
Ai Senhora dos Esquecidos me lembrai O caminho que p'ra lá vem e p'ra cá vai Etecetera e tal, portugal é nós no mar Inda agora vim e estou longe de chegar
Ai Senhora dos Meus Iguais que eu subtraí Foi pataca a mim e não foi pataca a ti Se é tão grande a alma na palma do meu ser Algum dia eu vou finalmente acontecer
Melodia 3 (coro infantil + Jmb)
Porque não tentar outro ponto de vista A história dos outros quem a contará Se qualquer colónia sem colonialista São os que já estavam lá
Tentemos então ver a coisa ao contrário Do ponto de vista de quem não chegou Pois se eu fosse um preto chamado Zé Mário Eu não era quem eu sou
Os navegadores chegaram cá a casa E foi tudo novo p'ra eles e p'ra mim A cruz e a espada e os olhos em brasa Porque me trataste assim?
Não é culpa nossa se quem p'ra cá veio Não se incomodou ao saber do horror A história não olha a quem fica no meio E o que foi é de quem fôr