Jorge Nigrum

Contraste

Jorge Nigrum


Os muros que te trazem segurança
para mim é uma redoma, uma espécie de prisão
Somos criados em meio a fé e medo
aprendemos desde cedo o peso de um sim ou não
A nossa realidade é diferente
não existe mar em frente
nós não temos mordomia
Aqui é um emaranhado de tijolos
tudo que nos falta em luxo
compensamos com alegria
O nosso réveillon é todo dia
só que essa chuva de fogos não encanta
mata gente
Caçam a minoria corrompida
não se importam se respinga
em mais um que é inocente
A marginalidade está solta
não estão só na favela
estão de todos os lados
Cadeia deveria ser para todos
mas só caçam o preto pobre
e esquecem o engravatado
A índole e moral de uma pessoa
não se julga por dinheiro, por família ou lugar
Nós temos dois exemplos bem distintos, quem
será que é mais bandido o Cabral ou o Beira-Mar?

Estão matando o Brasil
Os réus não usam só fuzil
Pistola, granadas e escopeta
Contratos, leis e uma caneta

Nós somos pré julgados erroneamente
aqui tem gente decente
me cansei desse contraste
Heróis que acordam às 5 da manhã
vivem com o essencial mantendo a dignidade
Enquanto uns veem que o mal do mundo
está todo aqui dentro concentrado e reunido
Eu vejo a união de um povo humilde
que aprendeu a viver com pouco
sem perder o seu sorriso
A droga que consome os dependentes
vem de fora, não da gente, não é aqui
que a planta cresce
A arma que consome muitas vidas
ela aqui não se fabrica, muitas vezes
a lei fornece
Aqui nosso plantio é de vida
de esperança que um dia, todo mundo viva bem
A fábrica que existe é de sonho
numa oportunidade para se tornar alguém
Seu jovem tá com tudo encaminhado
vai ser um advogado, vai ser médico ou dentista
O nosso se não for sempre o melhor
o mais forte e persistente
é mais um pra estatística

Estão matando o Brasil
Os réus não usam só fuzil
Pistola, granadas e escopeta
Contratos, leis e uma caneta

Eu quero igualdade
Não de grana, de imóveis
ou mordomia e sim de oportunidade
Quero ser visto pelo meu potencial
E não por morar bem ou mal
Afinal qual seu conceito de morar bem?
Muros altos que protegem, condomínio luxuoso
mas o amor se abstém
E quem é que mora mal?
Tantos muros sem embolso
coladinhos um ao outro
onde o amor é essencial
Aprendemos a viver com pouco
Mas não querremos viver com pouco
Já somos felizes sobrevivendo
imagina como seremos vivendo
Experimente vir aqui um dia
e ver quantas crianças correm em nossas ruas
Você pensa que todos querem ser jogadores né
está enganado, uns querem ser médicos
outros advogados
tem até quem quer ser astronauta
para conhecer a lua
Os sonhos aqui germinam, mas por falta
de quem os regue muita das vezes terminam
Entendam de uma vez por todas
que aqui não falta dignidade
não seja um boçal, aqui o que nos falta
é poder ir atrás dos nossos sonhos
em condição igual

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