Estes cernes consumidos, Em tua alma de brazedo Por certo guardam segredos, No centro das inverneiras, De repassar as basteiras, Retovando o garrerio Principiando o assobio, De uma milonga galponeira...
Quem tem lembranças guardadas como um regalo De um tempo lindo, quando tudo era estância Cruzar querência sobre o lombo do cavalo E por instinto ter o tempo e a distância.
Rever as garras penduradas no galpão Chiar de tição, nos respingos da cambona Sentir o gosto dessa xucra infusão Bebendo acordes de guitarras redomonas.
Galpão de estância, marca viva do meu mundo Cheiro de garras e pingos suados da lida Cantiga tosca do estralar dos gravetos Ar de sereno, com carqueja ressequida.
É a minha cantiga das crenças De um payador de ofício Mescla de guitarra e vício. És meu galpão centenário Que por certo foi o cenário De improvisos e vaidades No bordonear de ansiedades De algum poeta visionário.
Quando o soluço do inverno abre o poncho Ou mormaceando o verão trás as soalheiras Tua tranqueira de saludo abraça a gente Ilha quinchada, num mar verde sem bandeira.
Testemunho da raça dos potreadores Que no teu chão conceberam bruxarias Benzer a cisma num lampejo de aurora E atar espora, antes do clarear do dia.
Composição: Severino Moreira, Xiru Antunes e Jari Terres