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Dia Dos Pais

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Mais Loco Que u Barato!


Quadra oito, túmulo nove, cemitério dos Amarais
Segundo domingo de agosto, dia dos pais
Naquele dia mais uma vez eu fui tentar dá um abraço
No meu pai, sei lá, pode parecer loucura, né?
Abraçar quem já morreu, mas só quem perdeu
Pra saber a falta que faz um pai

Meti uma peita preta vesti uma lupa escura
Juntei uns troco pra floricultura
Queria te dar outro presente, ó pai, uma beca
Uma camisa do timão, um CD (sei lá) do Zeca
Mais fazer o que né? O senhor que escolheu
Preferiu o crime do que a família, deu no que deu
Pôs no peito dos gambézinho medalha de bronze
Passoua fazer aniversário em dois do onze

Meteu os ferro, roubou que roubou até umas hora (hein)
Ó onde você tá morando agora
A sete palmos, longe da mãe, de mim e da Roberta
Quando alguém pergunta do pai na escola ela desconversa

Se alguém ganhou nessa história foi só o seu advogado Nóis continua morando num quartinho alugado
E a mãe não teve estômago pra vir te visitar
Nunca mais foi a mesma depois que cê mudou pra cá

(É) Tem pesadelo, vê vulto direto
Só consegue dormir tomando remédio
Vive com a frase do PM no ouvido:
É, minha senhora, melhor uma viúva do que mais um bandido!

(REFRÃO)
Eu trouxe o seu presente, pai, é um buquê de flores
E agora o que que eu faço?
Eu só queria era poder te dar um abraço (2x)

Seus parceiro de ação nunca te abandonaram
Até no cemitério te acompanharam
Tá lembrado do neguinho pilotão de fuga
Tá aí do teu ó em outra sepultura

E aquele mano que era catadô linha de frente
Tá enterrado numa cova logo ali na frente
Quem não entrou pra quadrilha dos finado
Tá tirando dez no fechado do São Bernardo*

Cê foi baleado lembra? Eu fiquei com você a noite inteira
Nenhum parceiro veio dá uma de enfermeira
Só que quando eu mais precisei, cadê? Cê não tava
Com treze anos virei o homem da casa

A mãe sofrendo, doente, vivia no hospital
Larguei a escola pra vender sorvete no Taquaral
Cada lembrança é uma lágrima que cai
"Mó saudade mó saudade do meu pai"

(REFRÃO)
Eu trouxe o seu presente, pai, é um buquê de flores
E agora o que que eu faço?
Eu só queria era poder te dar um abraço (2x)

A mãe tá indo no culto todo domingo (graças a Deus)
Acho que se não fosse isso ela já tinha enlouquecido
A Roberta tá moça, cresceu que é uma beleza
Já tá até cantando no coral da igreja

Hoje, quando eu te vejo nas fotos em cima do raque
Vivo, positivo, só que nos negativo da Kodak
Lembro, do tempo que cê vivia com nóis
Cê sorria, mais aí a alegria
Apagou mais rápido que um flash de fotografia

E o mesmo crime que te levo pro dinheiro ilusão
Veio te devolve num caixão com flor e algodão
Olha, desculpa se eu falei demais, se eu pesei, fui além
É que eu precisava desabafa com alguém

Já deu minha hora, pai, deixa eu ir
Cê nunca escutou ninguém não é agora que você vai me ouvir
Quem sabe um dia nóis se tromba nem que seja sonhando
Pra eu te dar o abraço que ficou faltando

(REFRÃO)
Eu trouxe o seu presente, pai, é um buquê de flores
E agora o que que eu faço?
Eu só queria era poder te dar um abraço (2x)

Acho que a vida do crime é que nem a dessas flores que eu te trouxe
No começo parece que vai ser linda sempre, de repente, morre, desmancha, só fica os espinhos

Acho que os espinhos é que nem a saudade que fica machucando a gente, arranhando a nossa memória
É, pai, mais um ano sem você, mais um dia dos pais, sem paz, sem Pai, só saudade...


* São Bernardo (pra quem não sabe) refere-se à Penitenciaria de Campinas-SP *

Composição: Vrb

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