Estou parado na beira aqui no sétimo andar Comprando coisas na feira e vendo a vida passar O meu casaco é vermelho e a sua saia, marrom Marca de boca no espelho e casaco cor de batom Estou parado na beira observando o som Que o vento faz quando bate na grama de meio-tom Chicletes sem figurinha pregados no seu altar "Menino vai pra cozinha que é hora d'ocê jantar" Estou parado na beira perto do sexto andar Todo coberto de areia e lambuzado de mar Queria uma metade, mas me entregaram inteiro E foi embora a saudade desse pobre carpinteiro Estou parado na beira pronto pra me suicidar Vou mergulhar de cabeça e o vento vai me salvar Estou parado na beira e o quinto andar é tão quente Gente dizendo besteira pra quem não foi presidente Estou parado na beira vendendo a solidão Pois encontrei quem me queira e estou com os pés no chão No quarto andar eu não fico, pois a emoção me intriga Pra ninguém ele eu indico, não quero saber de briga Já no terceiro andar, a coisa é diferente Tem muito tipo de paz e muito jeito de gente Estou parado na beira esperando meu convidado Ele não fede e nem cheira, ele só é mal passado Hoje eu não fui trabalhar com medo da repressão Doeram fundo na alma as coisas do coração Moça subindo montanhas, tapando o sol com a peneira E eu aqui sem ninguém, porém parado na beira Estou chegando ao térreo, por favor, voem pra lá Cansei de parar na beira, no meio é que eu vou ficar Estou no segundo andar do edifício da vida E até agora ninguém me organizou despedida Desço degrau por degrau imaginando o mundo Fazendo tudo normal, pois só me resta um segundo Agora vejo o porteiro, mas não vejo a portaria Continuarei caminhando até que chegue o dia Estou parado na porta querendo saber do tempo Porque não vem me buscar, nem mesmo em pensamento Estou parado na beira, beirada da consciência Tomando um gole de amor, sugando minha decência Estou parado na beira e hei de ficar assim Até que a morte me queira, até que a vida, enfim