Fome... Por onde passo... Vejo fome!
Fome... Por onde passo... Vejo fome!
Na rua, na cama, no prato, no choro
A vida se agüenta até que ponto.
Fome... Por onde passo... Vejo fome!

Menina no farol rosna de pavor
Moleque na esquina cheira cola e engana dor
O velho, com suas rugas, dá biscoito ao cão
A mulher noturna rifa o coração.

Fome...

Saúde escarra na porta do hospital
Deitada no berço da vergonha nacional
Lousas das escolas tão cheias de cupins
Burrice resplandece majestosa nos jardins

Fome...

Meu país raquítico põe os ossos a nadar
Esperando os anjos os destroços resgatar
A arte tuberculosa grita pra não morrer
E o povo desinfeta os três poderes Pra Brasília não feder.