No sertão norte mineiro Numa manhã de domingo Alarguei-me do meu rancho Quando o sol tava saindo Era um tempo de fartura O sertão tava sorrindo
Com a espingarda cartucheira Embrenhei-me pela mata Minha diversão preferida Nesse tempo era a caçada Mas o destino me deu Uma passagem amargurada
No alto de uma aroeira Uma guariba apareceu E, fazendo que nem gente, Ela a mama espremeu Do seu corpo aparovado Leite de mãe escorreu
Não entendi que esse gesto Foi pra eu aparceber... Com um tiro de espingarda Fiz seu corpo estremecer Quando ela bateu no chão É que eu fui compreender...
Um choro de bicho menino Lá de cima, eu escutei Meus olhos se encheram d'água No momento em que avistei Um filhotinho chorando A mãezinha que matei
Tomei o bichinho no colo Chorei por minha maldade Levei ele pro meu rancho Tinha só uns três dias de idade... O meu remorso maior É ter sua inocente amizade
Toda vez que olho pra ele Sinto o peito magoado Já pedi ao Senhor do Céu Pra que eu fosse perdoado De caçador hoje sou Caça dum triste passado
Se algum dia eu caçar Será por causa da fome A feita da mãe guariba De minha mente não some Dizem que os bicos Não pensam... Mas quem diz isso é o homem.