Tinha 4 anos quando minha mãe Me largou na rua de repente Talvez eu me tornei um peso pra ela Eu não entendi o porque daquilo exatamente
Fiquei naquela esquina, esperando minha mãe voltar Ela me pediu, pra naquela esquina eu ficar E, todo dia, toda noite, eu só sabia lhe esperar Sentei na sarjeta. Descalço, de bermuda e camiseta
Senti medo de ficar sozinho, medo de tudo Das pessoas, da sede, da fome, do escuro Medo de me machucar E de não ter ninguém pra me ajudar
Medo dos carros, e de quando eles paravam de passar Passei o dia inteiro andando Mesmo sem saber onde chegar
Eu sempre acordava cedo, desajeitado no chão Abria meus olhos com medo Eu só queria mudar da rua, pra um colchão
Eu queria abraço e um beijo Mas esse desejo, tive que deixar Pois tive logo que aprender a me virar E nem foi pros meus pais terem orgulho de mim não Mas, foi pra ter o que comer Que comecei a observar o que tava fora do meu coração
Eu procurei comida em todo canto Eu até rezava pra qualquer santo E água em poça suja era o que eu mais achava Até a hora que o padeiro limpava o forno, eu decorava Eu prestava atenção Porque eu sabia que ele deixaria alguns restos de pão
Eu até decorei a hora Que aquelas senhoras limpavam suas casas Do lado de fora
Queria matar a sede numa poça d'água limpa E, depois ir embora Trabalhos, e amigos eu procurei Procurei a minha mãe e não encontrei Procurei uma casinha que eu gostaria de morar Procurei alguém, sei lá quem, pra me amar Vi tanta gente ruim, por mim passar Mas levei minha vida com fé e sem maldade Era eu, meus dois pés e a minha saudade
Pelas ruas, eu corria atrás de pipas perdidas Que ninguém mais queria Porque os brinquedos das vitrines, eu não podia Ganhei a bola velha que o filho do Seu Zé deixou pra trás Exatamente como um dia, a minha mãe não me quis mais Só queria ser criança uma vez, só eu sei
Nunca comi um doce, e a maioria das frutas Nem sei o gosto que tem Nunca dormia no mesmo lugar Porque os meninos maiores que eu Queriam sempre levar o que era meu Todos os dias eu tinha que tentar desaparecer no meio do breu
Passei a vida procurando um cantinho pra chamar de meu As pessoas no farol não tinham gentileza E eu fui ficando só, com mágoa e tristeza Gostava de ouvir os mais velhos, e ouvindo eu aprendia Me ensinaram a conseguir o que eu não tinha
Me machuquei mais vezes do que possa me lembrar E quando eu tinha febre, esperava a dor passar Eu procurei comida em todo canto Eu até rezava pra qualquer santo E água em poça suja era o que eu mais achava Até a hora que o padeiro limpava o forno, eu decorava Eu prestava atenção Porque eu sabia que ele deixaria alguns restos de pão Eu até decorei a hora Que aquelas senhoras limpavam suas casas Do lado de fora
Queria matar a sede numa poça d'água limpa E, depois ir embora Trabalhos, e amigos eu procurei Procurei a minha mãe e não encontrei Procurei uma casinha que eu gostaria de morar Procurei alguém, sei la quem pra me amar
Vi tanta gente ruim, por mim passar mas Levei minha vida com fé e sem maldade Era eu, meus dois pés e a minha saudade E até hoje eu não entendo porque minha mãe me jogou fora? Por que nunca voltou praquela esquina? Por que foi embora? Aprendi com os velhos na rua que a vida continua E quando a gente quer, a nossa fé nos leva além da lua Eles me disseram que eu não sou só um menino de rua
Mas, aprendi que não importa quem você é O que vale é a força da sua fé Não importa se você tem um sapato O que vale é o passo