Bruna Pinheiro

Menino de Rua

Bruna Pinheiro


Tinha 4 anos quando minha mãe
Me largou na rua de repente
Talvez eu me tornei um peso pra ela
Eu não entendi o porque daquilo exatamente

Fiquei naquela esquina, esperando minha mãe voltar
Ela me pediu, pra naquela esquina eu ficar
E, todo dia, toda noite, eu só sabia lhe esperar
Sentei na sarjeta. Descalço, de bermuda e camiseta

Senti medo de ficar sozinho, medo de tudo
Das pessoas, da sede, da fome, do escuro
Medo de me machucar
E de não ter ninguém pra me ajudar

Medo dos carros, e de quando eles paravam de passar
Passei o dia inteiro andando
Mesmo sem saber onde chegar

Eu sempre acordava cedo, desajeitado no chão
Abria meus olhos com medo
Eu só queria mudar da rua, pra um colchão

Eu queria abraço e um beijo
Mas esse desejo, tive que deixar
Pois tive logo que aprender a me virar
E nem foi pros meus pais terem orgulho de mim não
Mas, foi pra ter o que comer
Que comecei a observar o que tava fora do meu coração

Eu procurei comida em todo canto
Eu até rezava pra qualquer santo
E água em poça suja era o que eu mais achava
Até a hora que o padeiro limpava o forno, eu decorava
Eu prestava atenção
Porque eu sabia que ele deixaria alguns restos de pão

Eu até decorei a hora
Que aquelas senhoras limpavam suas casas
Do lado de fora

Queria matar a sede numa poça d'água limpa
E, depois ir embora
Trabalhos, e amigos eu procurei
Procurei a minha mãe e não encontrei
Procurei uma casinha que eu gostaria de morar
Procurei alguém, sei lá quem, pra me amar
Vi tanta gente ruim, por mim passar
Mas levei minha vida com fé e sem maldade
Era eu, meus dois pés e a minha saudade

Pelas ruas, eu corria atrás de pipas perdidas
Que ninguém mais queria
Porque os brinquedos das vitrines, eu não podia
Ganhei a bola velha que o filho do Seu Zé deixou pra trás
Exatamente como um dia, a minha mãe não me quis mais
Só queria ser criança uma vez, só eu sei

Nunca comi um doce, e a maioria das frutas
Nem sei o gosto que tem
Nunca dormia no mesmo lugar
Porque os meninos maiores que eu
Queriam sempre levar o que era meu
Todos os dias eu tinha que tentar
desaparecer no meio do breu

Passei a vida procurando um cantinho pra chamar de meu
As pessoas no farol não tinham gentileza
E eu fui ficando só, com mágoa e tristeza
Gostava de ouvir os mais velhos, e ouvindo eu aprendia
Me ensinaram a conseguir o que eu não tinha

Me machuquei mais vezes do que possa me lembrar
E quando eu tinha febre, esperava a dor passar
Eu procurei comida em todo canto
Eu até rezava pra qualquer santo
E água em poça suja era o que eu mais achava
Até a hora que o padeiro limpava o forno, eu decorava
Eu prestava atenção
Porque eu sabia que ele deixaria alguns restos de pão
Eu até decorei a hora
Que aquelas senhoras limpavam suas casas
Do lado de fora

Queria matar a sede numa poça d'água limpa
E, depois ir embora
Trabalhos, e amigos eu procurei
Procurei a minha mãe e não encontrei
Procurei uma casinha que eu gostaria de morar
Procurei alguém, sei la quem pra me amar

Vi tanta gente ruim, por mim passar mas
Levei minha vida com fé e sem maldade
Era eu, meus dois pés e a minha saudade
E até hoje eu não entendo porque minha mãe me jogou fora?
Por que nunca voltou praquela esquina?
Por que foi embora?
Aprendi com os velhos na rua que a vida continua
E quando a gente quer, a nossa fé nos leva além da lua
Eles me disseram que eu não sou só um menino de rua

Mas, aprendi que não importa quem você é
O que vale é a força da sua fé
Não importa se você tem um sapato
O que vale é o passo

Encontrou algum erro na letra? Por favor, envie uma correção >

Compartilhe
esta música

Ouça estações relacionadas a Bruna Pinheiro no Vagalume.FM

Mais tocadas de Bruna Pinheiro

ESTAÇÕES