Primeira Estância Eu sou uma prostituta que diariamente se humilha Prostituindo o corpo nos arredores da ilha A minha vida não é uma maravilha Devido às dificuldades de sustentar uma filha
Se existe uma luz do túnel deve estar a distância Onde a minha esperança não resiste ao drama Que escurece ainda mais a cor do meu panorama Composto por situações que me causam desagrado Como este mar da prostituição onde eu me degrado
Onde eu sinto o sabor amor amargo do fruto da vida Ontem perguntei ao silêncio qual é o motivo Que faz de mim uma mulher presa neste espinheiro O zumbido respondeu-me bem baixinho no ouvido
Eu já tentei procurar por um outro trabalho Que no fim da jornada dá-me um razoável salário Mas não encontrei nenhum a não ser este emprego Que em pleno luar mostra-me este mundo secreto
Segunda Estância Eu, sou um ladrão da capital de Luanda Que reside no município do Sambizanga Onde a miséria impera de uma forma evidente Como a governação nociva do senhor presidente Hoje eu carrego esta miséria como uma herança Que é partilhada também por toda minha vizinhança Que não se importa pelo facto de eu ser um ladrão Porque no bairro ser ladrão é uma profissão É difícil dormir quando se tem a certeza Que no dia seguinte não haverá comida na mesa Tudo porque a pobreza habita debaixo do tecto Que orientar o meu caminho até às esquinas do gueto É mais um dia que eu acordo num dos dias do fim É mais dia que a esquina do gueto espera por mim Contra esta verdade não adianta tu me iludires Porque a vida cravou a cor preta no meu arco-íris Eu fiz o ensino médio do curso que eu sempre quis Depois procurei emprego no interior do país Mas eu não consegui tudo por uma simples razão O meu padrinho ao invés da cozinha está na prisão
Terceira Estância Eu sou um polícia, da nona esquadra policial Que tem a função de manter a ordem social Nesta capital onde a lei não é transversal
Antes de ser um polícia eu sou um cidadão Que naufraga na miséria e na sua imensidão Onde o temporal do fado crucifica no céu O destino sofredor da vida que Deus me deu Admitido que eu sou um polícia da alheio lei Porque as dificuldades que eu passo, só eu bem sei São dias e noites perdidas neste trabalho
Que não contrapesa as despesas que eu assumo Nesta vida perdida numa avenida sem rumo Onde a dor actua como um calcanhar de Aquiles Eu não vejo as cores coloridas de um arco-íris O meu salário é inútil e sem algum cabimento Como os deputados que adormecem no parlamento Nesta onda de sofrimento eu vivo sem febra Porque eu vivo partido como um cristal que se quebra
Épilogo: Yeah, é mesmo assim Estamos na merda Mas a pesar dos pesares a vida continua Keep your head up; you gotta keep your head up Kepp your head up; stay strong... you gotta keep your head up!