Osvaldo Eu vou contar uma história Que eu não sei como começa Eu vou contar uma história Que eu não sei qual é o fim
Eu vou buscar na memória E vou rimando sem pressa Pois quando eu falo do mundo Revelo o que há em mim
Dorotéia: Oxente, você nem sabe a história que vai contar? Osvaldo: Eu sei a história que vou contar, o que eu não sei é a história que você vai ouvir
História boa de se contar É conto que a gente não conta só É de braço dado, de laço e nó Que a linha da vida fica maior
Conto com você pra me ajudar Sorte nessa vida é compartilhar É aí que mora, ai, ai, ai... O borogodó
Dorotéia: Eu? Como eu vou ajudar a contar a história? Osvaldo: É sobre isso mesmo que fala essa lenda. A história do Mágico Di Ó! Dorotéia: Mágico? Tenha dó! Osvaldo: Como é? Dorotéia: Isso não existe não... Osvaldo: Sabe que falando assim, tu fica até meio parecida com a protagonista? Dorotéia: Fico, é? Osvaldo: Sim! O jeito, o cabelo, o sorriso. Até os pulmão lembram um pouquinho. Dorotéia: Oxe Osvaldo: E eu sei que lá no fundo ela sonha com alguma coisa muito especial.
Todo mundo, no fundo, sempre traz consigo Um sonho, uma vontade de querer ser Quem disser que não é que tá mentindo Ou então precisando parar pra ver
Osvaldo: Preste atenção, Dorotéia, é preciso fechar os olhos pra ver direito, ou melhor, pra ver como quiser ver... Dorotéia: Ô, fulerage, agora ele vai dizer que essa história se passa num reino encantado... Osvaldo: Exatamente! Dorotéia: É o que? Osvaldo: Um terra cheia de magia, berço da arte e tanta história bonita... Um reino chamado Nordeste brasileiro! Dorotéia: Aqui? Osvaldo: Um reino encantado, porém enfeitiçado por um maldição. Dorotéia: Que maldição? Osvaldo: Uma maldição que levou toda a água dessa terra embora e ali fez ser um lugar tão sofrido, ser tão amargo e ser tão triste, que lhe deram o nome de ser-tão.
Osvaldo (Coro) Eu vou lhe pedir pra não enxugar O choro que talvez venha por aí O que o nosso cenário mais carece É de alguém que o regue pra florir E pra viver aqui
Tem que ser tão firme Tem que ser tão forte Onde sonhar é crime E esperar é morte
Tem que ser tão duro (firme) Tem que ser tão bravo (forte) Onde não tem futuro O povo nasce escravo
Osvaldo: No sertão é assim: é um ser-tão sem fim
Coro Tem que ser tão Tem que ser tão Tem que ser tão Tem que ser tão...
Osvaldo: E o povo que vivia ali foi se enganando, se acomodando e se encostando. Óia só que ironia: até mesmo a sede por felicidade foi-se embora, o povo foi-se embora. E a esperança ficou lá fora no portão batendo palma, pedindo pra entrar. Mas só que ninguém mais vê razão pra acreditar, nem mesmo a protagonista... Dorotéia: Mas tu disse que ela sonhava com alguma coisa muito especial! Osvaldo: E sonha! Dorotéia: Com o quê? Osvaldo: Me diga você que parece ser tão parecida com ela. Dorotéia: Eu não sei! Osvaldo: Ah, que pena! Então parece que a história termina aqui...
Dorotéia Eu vou contar uma história Que eu não sei como começa Eu vou contar uma história Que eu não sei qual é o fim
Eu vou contar uma história Que eu não sei se interessa Mas essa é a minha história E eu vou contar mesmo assim
Coro Tem que ser tão Tem que ser tão Tem que ser tão Tem que ser tão...
Osvaldo: Então eu vou lhe dar uma história de verdade, mas não se esqueça: a realidade é uma coisa muito relativa.
Dorotéia No sertão é assim
Coro Tem que ser tão Tem que ser tão Tem que ser tão Tem que ser tão...
Osvaldo: Voar pra gente é impossível e mamão com açúcar pra patativa.