Chapada do Apodi - Autores: Sávio Leão / Beija-Flor

No sertão tendo baião, a noite é de brincadeira
Quem casou leva a caseira, quem não casou um xodó
Dançam de levantar pó, nos recantos do salão
Só se caba a diverção quando a sanfona é guardada
Desponta o sol na chapada, iluminando o sertão.

De manhãzinha bem cêdo, e neve na serra borda
O sertão todo se acorda, no canto do passaredo
E o preá do lagedo, busca a sua direção
Com medo da traição, da bate-buxa malvada
Desponta o sol na chapada, iluminando o sertão.

Na fazenda o vaqueiro, a madrugada aproveita
Arreia a vaca e desleita, no curral do fazendeiro
E em seu cavalo ligeiro, coloca a cela e bridão
E quando veste o gibão, prá ir prá mata fechada
Desponta o sol na chapada, iluminado o sertão.

O sol para se esconder, não comete um só atraso
Se deita no berço ocaso, deixando a noite nascer
Mas no amanhecer, desperta longa visão
Sua focalização, deixa a terra iluminada
Desponta o sol na chapada, iluminando o sertão.

Na hora em que a barra cai, o dia avisa que vem
A noite junta o que tem, rebola na costa e sai
Quando perto ainda vai, levando o seu matulão
O dia passa o portão, onde a noite fez morada
Desponta o sol na chapada, iluminando o sertão.

A noite opaquece a fonte, dos animais da bebida
Mas quando faz partida, brilha mais o horizonte
Por lá por trás de um monte, o sol estende uma mão
Como quem passa um borrão nos rastros da madrugada
Desponta o sol na chapada, iluminando o sertão.

Quando a treva desce em peso, roda a noite deixa tonta
Laça a lua, toma conta, pega o dia e deixa preso
Quando o sol vê o desprezo, se transforma num dragão
Tira o dia da prisão, e deixa a noite encarcerada
Desponta o sol na chapada, iluminando o sertão.

Quem mora no pé da serra, assiste ao vivo o cinema
De o sol nascer cor de gema, beijando as pedras da terra
Deus que é mestre não erra, fortifica seu clarão
Deixa-lhe filmar o chão, por trás da serra dourada
Desponta o sol na chapada, iluminando o sertão.

O sol que dá luz ao dia, nunca precisou bobina
Instalação nem turbina, canela nem bateria
A Paulo Afonso energia, não é nem imitação...
Da eletrificação feita pela mão sagrada
Desponta o sol na chapada, iluminando o sertão.