Eu sou verso, poema, sou canção Sou nordestinamente brasileiro Sou da terra de Jackson do pandeiro Discípulo do mestre rei do baião Eu sou voz, melodia, sou paixão De um povo que canta sua gente Um vaqueiro que faz o seu repente Aboiando as coisas do sertão Eu sou verso, poema, sou canção Sou nordestinamente brasileiro
Eu cresci com cuscuz e mungunzá Carne de sol no óleo e arroz de leite Minha mesa nem teve muito enfeite Se comia o que dava pra comprar Era bolo de milho e de fubá Malassada com ovo e com biju Minha boca dormente do imbú E a canjica esfriando no fogão Eu sou verso, poema, sou canção Sou nordestinamente brasileiro
Joguei bila e brinquei de peão Soltei pipa, atirei de baladeira Meu carrinho era uma roladeira Era o rei na polícia e ladrão Fui he-men, super homem, fui sanção Com as meninas da rua era o artista Pêra, uva, maçã, salada mista Desde novo muié foi perdição Eu sou verso, poema, sou canção Sou nordestinamente brasileiro
Minha vida foi dentro de um curral Desde novo sentado numa cela No domingo ia á missa na capela Implorar para Deus chuva mandar Certa vez eu fui conhecer o mar Tanta água perdida que eu chorei Fosse doce eu digo á vocês Mataria a sede do meu sertão Eu sou verso, poema, sou canção Sou nordestinamente brasileiro
Sou de nós, sou de casa, eu sou raiz Da batalha do povo eu sou a soma No cabo da enxada meu diploma No suor do meu corpo meu chassi Nem tudo é do jeito que eu quis Mas na vida nem tudo tá perdido O que importa é que Deus está comigo E acredito na sua salvação Eu sou verso, poema, sou canção Sou nordestinamente brasileiro
E o que eu quero na vida é ser feliz Ver de perto os meus filhos crescerem Dar a eles o que eu não pude ter Em saúde, lazer e educação Como quem já cumpriu sua missão Receber qualquer um de braço aberto Dedilhar minha vida nos meus versos Terminar os meus dias no sertão Eu sou verso, poema, sou canção Sou nordestinamente brasileiro.