É raro que, em uma conversa sobre música, alguém não diga que o rock morreu, citando a falta de interesse das novas gerações no gênero, ausência dele em rádios não especializadas e mesmo nas playlists mais populares dos serviços de streaming, que privilegiam muito mais o pop e o rap (e o sertanejo e o funk, no caso especifico do Brasil) do que as guitarras.

Isso não significa, obviamente, a morte do rock. Ao vivo, ele ainda segue movimentando cifras expressivas e há sim muita gente nova fazendo trabalhos de grande interesse, mesmo que eles fiquem um pouco mais restritos - ou seja, é preciso ir atrás dessa música e não esperar que ela caia em seus ouvidos.

Por outro lado, existem também os artistas que se tornaram verdadeiros guardiões do gênero. Nomes que superam todo e qualquer tipo de barreira, seja de língua, fronteiras geográficas ou faixa etária, e seguem semana após semana nas paradas de sucesso.

Como era de se prever, a maioria deles são mais ouvidos em coletâneas do que em discos de carreira - infelizmente a imersão em uma obra, seja um trabalho de estúdio ou uma discografia completa, anda meio fora de moda nesses tempos mais imediatistas e de grande oferta musical disponível, mas, em última instância, saber que essa música segue viva é o que, de fato importa.

Ouça abaixo alguns desses "campeões de audiência"

Queen - "Greatest Hits" (1981)
Queen

O Queen é, certamente, o maior caso de "esperanto rock", deste século, para usar uma expressão de Elvis Costello, ao se referir aos artistas que são ouvidos em praticamente todo e qualquer canto do planeta. A banda britânica nunca deixou de ser popular em países como Reino Unido, Japão e Brasil e também goza de muito mais sucesso nos Estados Unidos hoje em dia do que quando estava na ativa.

Lançada há 40 anos, essa foi a primeira coletânea deles e se mantém como a mais querida. O fato dela ter 17 músicas, em sua edição original e também na brasileira, e saído em um disco simples de vinil certamente ajudou nas vendas, mas, convenhamos, um álbum que junta os melhores momentos dos primeiros anos da banda não tinha como dar errado, e não deu.

"Greatest Hits" é o disco mais vendido da história no Reino Unido, são mais de 6 milhões de cópias, e já passou centenas de semanas, quase mil, no top 100. No ranking atual, ele aparece no segundo lugar, graças a uma reedição especial em celebração aos seus 40 anos - nos EUA ele aparece em 16°.

O sucesso da cinebiografia "Bohemian Rhapsody" também levou a música de Freddie Mercury e cia. para milhões de novos ouvintes que hoje ouvem o grupo com o mesmo prazer que os velhos fãs.

Um curiosidade: a lista de faixas da coletânea variava de país para país. Assim, a inglesa vinha com "Seven Seas Of Rhye", a brasileira com "Love Of My Life no lugar dela, e a americana com "Under Pressure (feat. David Bowie)" (que no Reino Unido entrou no volume 2 dos "Greatets Hits", lançado uma década mais tarde). O VHS (e posterior DVD) também tinha algumas diferenças em relação ao vinil.



The Beatles - "1" (2000)
The Beatles

Esta não foi a primeira compilação do quarteto de Liverpool, longe disso, e ela até que demorou para sair, já que no ano 2000 a internet já estava mudando radicalmente a nossa maneira de escutar música. Ainda assim, este CD se tornou um fenômeno como há muito não se via.

Pensado como um disco simples, ele tinha uma concepção bem simples: só entraram nele músicas que ficaram no primeiro lugar no Reino Unido ou EUA, totalizando 27 músicas. Óbvio que não se pode fazer um resumo completo da carreira dos Beatles com menos de três dezenas de faixas, e muitas músicas significativas, jamais saíram em compacto, e, portanto, não foram incluídas. Por outro lado, para quem buscava um disco com "as mais conhecidas" ou queria um CD da banda para ouvir no carro, "1" se mostrou o artefato ideal e segue assim.

As vendas globais superaram os 30 milhões de cópias e, neste momento, ele está em 16° lugar na Inglaterra e em 96° nos EUA.



Creedence Clearwater Revival - "Chronicle, Vol. 1" (1976)
Creedence Clearwater Revival

O Creedence pode ter durado pouco - o primeiro álbum saiu em 1968, e o último em 1972 - mas a chama deles segue brilhando. A razão para isso são as canções de John Fogerty, que, em plena era da psicodelia, resolveu olhar para os primórdios do rock and roll, revitalizando assim aquele som básico com as técnicas mais modernas de gravação.

O ritmo de produção é impressionante: foram sete álbuns, sendo três deles só em 1969, e nove singles no top 10 norte-americano, ainda que eles nunca tenham tido um compacto no número 1. O quarteto se desintegrou depois de "Mardi Grass", o derradeiro álbum e o único que não teve o controle total e absoluto de Fogerty.

Foi um final melancólico para uma banda que deixou uma série de momentos inesquecíveis, a maior parte deles presente nessa coletânea de 1976, que tinha 20 músicas e seguiu popular com o advento do CD e dos formatos digitais. O volume 1 de "Chronicle" ganhou disco de diamante nos EUA, e já passou mais de 500 semanas no top 200 da Billboard - neste momento, ele aparece no 29° posto.



"Back In Black" - AC/DC - 1980
AC/DC

Para terminar, vamos com dois discos "de carreira", para não ficarmos só com as coletâneas. O AC/DC, contrariando as previsões, acabou se tornando não só uma banda extremamente popular, mas um bastião do rock and roll, que atravessa gerações.

Com seu som básico, e imutável, eles seguem passando por cima de qualquer percalço que surja em seu caminho, incluindo o surgimento de novas ondas musicais e até mesmo a morte de integrantes fundamentais, angariando mais e mais fãs sem perder os que estão com eles há décadas nessa jornada.

"Back in Black" saiu em 1980, época em que os críticos estavam mais ligados na new wave e nos trabalhos da geração que despontou com o punk, do que na cena de rock pesado. O primeiro disco com Brian Johnson nos vocais saiu apenas um ano depois da morte de seu antecessor, Bon Scott.

O cantor acabou se integrando perfeitamente na engrenagem dos irmãos Young, com sua voz rasgada e o mesmo talento para escrever letras repletas de duplo sentido. A mágica foi completada pela excelente leva de composições preparadas para o trabalho e a produção, na medida certa, de Robert "Mutt" Lange, que conseguiu trazer mais clareza, e potencial comercial, para a música do quinteto.

"Back In Black" estourou logo de cara, primeiro lugar no Reino Unido e Austrália, e quarto nos EUA, mas logo, se tornou aquele raro disco que acaba nas mais diversas discotecas, incluindo aquelas com pouco, ou quase nenhum, espaço para esse tipo de som.

Resultado? Um disco que ganhou 25 certificados de platina nos EUA, onde ele está no 56° lugar neste momento, e que vendeu, estima-se, mais de 50 milhões de cópias ao redor do mundo.



Arctic Monkeys - "AM" (2013)
Arctic Monkeys

Encerramos este especial com um disco mais recente, prova de que, ao menos no Reino Unido, há ainda espaço para que uma banda ocupe o coração dos fãs de diversas faixas etárias "como nos velhos tempos". Este é o quinto álbum da banda liderada por Alex Turner e ele se mostrou um trabalho bem sucedido tanto entre os críticos - sempre importantes para dar credibilidade para um disco - e o público.

Além de ter aparecido com destaque nas listas de melhores trabalhos de 2013 e da década de 10, ele ficou no topo da parada britânica e sexto nos EUA, e segue muito querido na Grã Bretanha, onde já está há 408 semanas no top 100.