Vagalume
Janeiro é sempre um mês complicado quando o papo são novos lançamentos. As gravadoras escolhem essa época para dar férias ao seu pessoal, o mercado também dá uma desaquecida depois da euforia das festas de final de ano e são poucos os artistas que se arriscam a sair com novos trabalhos, especialmente os de primeira grandeza.

Felizmente existe gente disposta a quebrar essas regras e graças a eles conseguimos compilar mais esse especial. Trazendo discos de rap, metal, soul, R&B, pop, indie, rock clássico, punk, hardcore e rock alternativo, esse talvez seja o especial mais eclético que já fizemos, o que o torna especialmente interessante para aqueles com a mente mais aberta.

Veja quais foram os principais lançamentos:

Justin Bieber - "Believe Acoustic"

Justin Bieber
Justin Bieber Believe Acoustic
Com a indústria do disco cada vez mais combalida a regra é sempre é a de explorar os nomes que mantém a roda girando o máximo possível. Se para a gravadora a curto e médio prazo a estratégia funciona, já se sabe que muitas vezes o resultado disso acaba sendo a saturação de determinado "produto", onde sempre o que mais sofre com isso é o artista em questão, já que novos nomes estão sempre surgindo.

Essa longa introdução serve para falarmos desse novo álbum de Justin Bieber com versões acústicas de músicas de seu último disco de estúdio e mais algumas inéditas. O fato é que o, agora não tão jovem, cantor, está dando provas de que é de fato um artista com talento com boas chances de escapar da "maldição do artista teen" e se tornar sim, uma estrela duradoura. Por isso é compreensível ver boa parcela da imprensa incomodada com esse disco com toda a pinta de caça-níquéis.

Mas aí você escuta o disco e descobre que os novos arranjos ajudam a revelar toda uma nova faceta em diversas faixas que em sua primeira encarnação estavam encobertas por truques e mais truques de produção. A surpresa só aumenta ao se notar que as canções inéditas não são apenas restolhos de sessões anteriores, mas sim boas músicas que só comprovam que Justin Bieber está evoluindo cada vez mais.

Destiny's Child - "Love Songs"

Destiny's Child
Destiny's Child Love Songs
Para quem achava que o capítulo Destiny's Child já estava encerrado na biografia de Beyoncé esse lançamento não deixa de surpreender. Não que o surgimento no mercado de mais uma coleção com os hits do grupo seja exatamente uma surpresa.

Mas, essa coletânea dedicada aos momentos mais românticos do grupo que encerrou suas atividades em 2006 traz a inédita e recente "Nuclear"" que marca o retorno do grupo, ainda que por um pequeno tempo. Pode ser pouco, mas para algo que os fãs estão sabendo valorizar.

Vários Artistas - "12-12-12 The Concert for Sandy Relief"

12-12-12 The Concert For Sandy Relief
12-12-12 The Concert For Sandy Relief 12-12-12 The Concert for Sandy Relief
O grande concerto realizado no dia 12 de dezembro de 2012 para arrecadar fundos para as vítimas do furacão Sandy certamente ficará na lembrança de quem o assistiu seja na tv ou no Madison Square Graden. Afinal é difícil imaginar que tenhamos a chance de ver novamente no mesmo palco Paul McCartney, Rolling Stones, The Who, Bruce Springsteen e vários outros nomes de primeiríssima grandeza.

Esse registro traz alguns momentos daquela noite mágica mas não todos. Assim se é legal termos eternizados os encontros entre Chris Martin e Michael Stipe ou o de Eddie Vedder e Roger Waters, por outro lado é difícil não se decepcionar com as ausências dos encontros entre Bruce Springsteen e Bon Jovi (e vice-versa) ou da jam que uniu McCartney aos remanescentes do Nirvana. Ainda que neste caso os motivos devam ter sido contratuais.

Mas se você conseguir se esquecer deste detalhe ainda assim vai conseguir curtir o álbum. Afinal temos aqui muitas das melhores canções já escritas em toda a história do pop quase sempre executadas com entusiasmo e alegria por todos os participantes.

A$AP Rocky - "Long.Live.A$AP"

A$AP Rocky
A$AP Rocky Long.Live.A$ap
O rapper de 24 anos chega ao seu primeiro álbum colhendo diversos elogios além de entrar direto no topo da parada americana.

Para os críticos o grande mérito do artista foi ter mantido a pegada da mixtape "LiveLoveA$AP" lançada ano passado mesmo com uma produção naturalmente mais elaborada graças que se espera de um disco "de verdade".

Contando com as participações de Drake e de Skrillex e trazendo na produção nomes como Danger Mouse e Clams Casino, "Long. Live. ASAP" é o primeiro disco de 2013 que o fã de rap e hip-hop deve somar à sua coleção.

Ben Harper And Charlie Musselwhite - "Get Up!"

Ben Harper
Ben Harper Get Up!
O que esperar da união entre um dos cantores, músicos e compositores mais talentosos a despontar no mundo pop nos últimos 20 anos com um dos grandes músicos do blues moderno? Música de qualidade naturalmente.

Em "Get Up!", o sempre confiável Ben Harper chamou o lendário Charlie Musselwhite para dividir com ele todo um Lp - o termo aqui cai bem até pelo forte clima retrô do trabalho. O álbum curiosamente sai pelo revivido selo "Stax" aquele que nos anos 60 e 70 lançou boa parte dos melhores álbuns e singles da história do soul.

Para quem não conhece Musselwhite, basta dizer que ele é um dos raríssimos brancos que realmente podem ser chamado de "blues man" - foi ele a maior inspiração de Dan Ankroyd na criação de seu personagem Elwood Blues (aquele dos Blues Brothers).

Agora imaginem todo esse talento e história unidos ao dom natural de Harper para criar canções inesquecíveis, é desnecessário dizer que esse é um daqueles álbuns que merecem ser ouvidos com atenção.

Pollo - "Vim Pra Dominar O Mundo"

Pollo
Pollo Vim Pra Dominar o Mundo
Surgido em 2011, o Pollo conseguiu rapidamente chegar a um nível de popularidade que muita gente leva anos para conquistar. O fato é que o grupo soube usar bem a internet como ferramenta de distribuição e logo se tornou bastante conhecido com seu hip-hop de forte acento pop.

"Vim Pra Dominar o Mundo" chega com 14 faixas incluindo os hits "Vagalumes (part. Ivo Mozart)", "Piritubacity", "Trama" e várias outras que foram muito ouvidas pelo fã clube da banda em shows e vídeos no YouTube.

Bad Religion - "True North"

Bad Religion
Bad Religion True North
Verdadeira instituição do punk rock americano, o Bad Religion mostra que ainda tem muita lenha pra queimar neste que é o seu décimo-sexto álbum de estúdio.

Curto e grosso "True North" tem 16 faixas em seus pouco mais de poderosos 35 minutos e só comprova que Greg Graffin e Brett Gurewitz seguem mestres na arte de criar canções que mesmo raivosas e viscerais também sabem ser melodiosas e bem construídas, coisa que só gente com muito tempo de estrada e inegável paixão pela música pop consegue fazer.

Aaron Neville - "My True Story"

Aaron Neville
Aaron Neville My True Story
Apesar da cara de mau e do físico de halterofilista, Aaron Neville é dono de uma das vozes mais puras e belas da música americana. Na ativa desde os anos sessenta seja em carreira solo ou no agrupamento fraterno The Neville Brothers, o cantor há décadas torna a vida de quem o ouve mais completa.

Em "My True Story" Aaron volta-se ao seu primeiro amor: o R'n'B e doo wop dos anos 50, início dos 60. O resultado é um disco simples, bonito, bem produzido e de grande carga emocional. Vale a pena ver o cantor relembrando antigos hits dos Drifters, Ronettes, Ben E. king, Impressions e mais uma série de artistas e canções que estão cada vez mais se perdendo com o tempo. A cereja do bolo fica com a produção de Don Was e de Keith Richards dos Rolling Stones.

Black Veil Brides - "Wretched and Divine: The Story of the Wild Ones"

Black Veil Brides
Black Veil Brides Wretched and Divine: The Story of the Wild Ones
Pelo visto não foi só Biffy Clyro que teve a ideia de vir com um disco complicado logo no começo do ano. Tem, por exemplo, os Black Veil Brides que estão lançando uma "ópera rock conceitual", algo no mínimo impensável para um grupo que costumava ser descrito como influenciado por Kiss, Def Leppard, Mötley Crüe e outros mestres do rock desencanado.

Os críticos se dividiram com alguns louvando a coragem da banda em se arriscar em um projeto de tamanho vulto, enquanto outros acham que tudo não passa de uma grande ego-trip da banda e que o melhor seria que eles voltassem o quanto antes a gravar canções mais diretas.

Seja como for o quinteto parece estar bastante feliz com o resultado e está investindo bastante na coisa toda. Para se ter uma ideia a versão deluxe do cd traz de bônus o DVD com "Legion of the Black", um filme baseado na história do álbum.

Helloween - "Straight Out Of Hell"

Helloween
Helloween Straight Out of Hell
Verdadeira lenda do heavy melódico, esse já é o décimo-quarto disco dos reis do power-metal.

"Straight Out Of hell" é mais um disco conceitual destes alemães que contam com um enorme fã-clube no Brasil. Se você esta entre esses admiradores já sabe o que esperar: músicas épicas e que jamais optam pelo caminho mais fácil e letras com temas fantásticos. Tudo executado por músicos de inegável proficiência.

Mas nem tudo aqui é técnica. O grupo também deixa suas emoções virem a tona, seja em uma faixa em homenagem a Freddie Mercury ("Wanna Be God") ou em uma canção dedicada ao falecido tecladista do Deep Purple, Jon Lord (uma versão de "Burning Sun" presente na versão deluxe do álbum).

Dropkick Murphys - "Signed and Sealed In Blood"

Dropkick Murphys
Dropkick Murphys Signed and Sealed in Blood
Quem viu o filme "Os Infiltrados" de Martin Scorsese não deve se esquecer de sua trilha onde as canções desta banda surgem com certa frequência. Na ativa há mais de quinze anos o Dropkick Murphys segue fazendo o "punk celta" que sempre o caracterizou.

Para quem não conhece a banda mistura punk rock e a música tradicional irlandesa o que resulta em um som diferente, forte e definitivamente festeiro, ainda que os temas abordados pela banda estejam bem longe daquela coisa de "músicas para beber, farrear e brigar" que o som deles definitivamente inspira.

Esse já é o oitavo disco deles e é uma boa porta de entrada para a banda que segue como uma das mais interessantes do cenário punk atual.

Yo La Tengo - "Fade"

Yo La Tengo
Yo La Tengo Fade
Seguindo quietinhos e na deles há mais de 25 anos o Yo La tengo chegou ao seu décimo-terceiro disco, mostrando que não é preciso vender milhares de cópias ou entregar-se aos esquemas do sucesso fácil para conseguir uma carreira longa e respeitável.

Verdadeiro patrimônio da cena indie, o trio segue fazendo sua mistura de melodias com momentos mais ruidosos a la Velvet Underground de forma exemplar e com ânimo de estreantes.

Para quem curte indie rock "de raíz" não existe melhor opção para se ouvir nesse início de ano. Quem nunca os ouvir também tem tudo pra virar fã.

Biffy Clyro - "Opposites"

Biffy Clyro
Biffy Clyro Opposites
As bandas britânicas de rock alternativo andam cada vez mais ambiciosas - ou pretensiosas diriam alguns mais mal-humorados.

Quem agora decidiu que era a hora de lançar um "trabalho de vulto e importância" foi o Biffy Clyro com um cd duplo (existe também uma versão simples naturalmente truncada) dividido em duas partes e aquele clima pomposo descendente direto do bom e velho rock progressivo - aquele mesmo que sempre é revivido por mais que muitos críticos tentem enterrá-lo.

"Opposites" na verdade funciona e bem até demais. Isso porque o grupo felizmente não se perdeu em grandes viagens sejam temáticas ou musicais. O disco é ambicioso sim, mas repleto de boas melodias, refrões para se cantar junto e bons riffs que mantém os pés da banda firmes no chão.

New Order - "Lost Sirens"

New Order
Em 2005 o New Order lançou "Waiting For The Sirens' Call" e logo depois saiu em turnê. Logo após uma série de apresentações no Brasil a relação entre Bernard Summer e Peter Hook explodiu após anos de tolerância pondo assim um fim à banda que os fãs aprenderam a amar desde os anos 80.

Por ali as coisas estão longe de serem resolvidas, ainda mais depois que o grupo decidiu retomar suas atividades sem Hook. O resultado disso é um festival de acusações de ambas as partes que divertem e entristecem na mesma medida.

"Lost Sirens" que pode ser chamado de um "EPzão" traz as sobras do último disco que a banda gravou com Hook. A ideia inicial era que a banda iria voltar à essas canções assim que a turnê acabasse para assim dar início ao seu próximo disco.

Como o destino não quis que fosse assim, temos então esse disco que por razões externas mas não só, acaba se mostrando um dos mais melancólicos de uma das bandas mais melancólicas de todos os tempos.