Hoje em dia em tempos de mp3 falar em selos e gravadoras é até meio engraçado. Mas durante muito tempo os selos eram intimamente identificados com seus artistas ou com determinados estilos. Especialmente as etiquetas independentes que gozavam de liberdade mesmo quando assinavam contratos de distribuição com as grandes multinacionais. É possível imaginar um mundo sem o jazz da Blue Note e Verve? E um lugar sem o reggae e o folk inglês da Island (que também nos deu o U2)? Mais exemplos? O soul da Stax e da Hi, o pós-punk da Rough Trade e as sonoridades etéreas da 4AD. A lista vai longe com o hard rock da Vertigo, o progressivo da primeira fase da Virgin e o rock underground americano dos anos 80 da SST, Dischord e Alternative Tentacles.

Na Inglaterra também é preciso se lembrar da Postcard (que praticamente inventou o indie rock com seus discos de tiragem limitada e grande influência) e, claro, a Creation que revelou Jesus and Mary Chain e o Oasis. Mais recentemente podemos citar a inglesa Bella Union (John Grant, Fleet Foxes) e a americana Merge (Arcade Fire).
O Brasil também merece ser lembrado com o selo Elenco que lançou clássicos da Bossa-Nova e mais tarde a Baratos Afins fundamental no pós-punk paulistano e em dar espaço para a primeira geração do Heavy-Metal nacional e o Banguela criado pelos Titãs (Raimundos, Mundo Livre S.A)
Selecionamos hoje cinco discos de selos de épocas diversas que deixaram um grande legado.



Aretha Franklin
Aretha Franklin I Never Loved a Man the Way I Love You
Atlantic - I Never Loved a Man the Way I Love You - Aretha Franklin - A Atlantic nasceu em 1947 pelas mãos de um imigrante turco esperto e visionário de nome Ahmet Ertegün. Seu selo foi fundamental para o jazz e a soul music com alguns dos melhores momentos do Rhythm and Blues gravados ou lançados por ele. Coasters, Drifters, Ben E. King, Wilson Pickett e o maior de todos Ray Charles registraram ali momentos fundamentais da música moderna. Nos anos 60 Ertegün salvou a carreira de Aretha Franklin que estava meio perdida na Columbia e distribuiu nacionalmente os discos de um selo de Memphis chamado Stax, levando ao mundo mais nomes fundamentais como o de Otis Redding. A Warner comprou a gravadora em 1967, mas Ertegün manteve seu cargo. Foi ele quem contratou o Led Zeppelin e levou os Rolling Stones na década de 70 para a empresa.

Elvis Presley
Elvis Presley Elvis at Sun
Sun Records - Elvis at Sun - O que falar de uma gravadora que deu ao mundo Johnny Cash, Roy Orbinson, Carl Perkins e... Elvis Presley. A Sun foi criada por Sam Phillips que já teria entrado para a história por ter produzido em 1951 aquele que é considerado o primeiro disco de rock: Rocket 88 com Jackie Brenston (na verdade quem fez tudo no disco foi o futuro marido e espancador de Tina Turner Ike Turner). Phillips dizia que no dia que achasse um branco que cantasse como negro ficaria rico. Um belo dia um caminhoneiro entrou em seu estúdio para gravar uma música para a sua mãe e o resto é história. Phillips só não ficou exatamente milionário porque vendeu o passe de Elvis à RCA por 35 mil dólares. Ainda assim as gravações que fez com ele na Sun são tidas como as melhores de toda a carreira do astro e a pedra fundamental do Rock 'n' Roll.

Motown -
Stevie Wonder
Stevie Wonder Talking Book
Talking Book - Stevie Wonder - Fundada em 1960 na cidade de Detroit a Motown foi cria de Berry Gordy que se inspirou nas montadoras de veículos da cidade para tocar seu negócio. Sua gravadora assim funcionava com o conceito de "linha de montagem" com compositores, músicos, produtores e intérpretes com funções bem definidas. Deu certo, tanto que nos anos 60 a Motown encarou de frente Beatles, Rolling Stones, Elvis, Beach Boys e quem aparecesse pela frente. Também com um elenco que tinha Temptations, Smokey Robinson (esse também vice-presidente da empresa), Marvin Gaye, Supremes, Stevie Wonder e, mais tarde, o Jackson5 o que mais podia se esperar? Nos anos 70 alguns contratados se "rebelaram" e pediram mais liberdade. O resultado? Álbuns antológicos como What's Going On de Marvin Gaye e Talking Book de Stevie Wonder.

Joy Division
Joy Division Unknown Pleasures
Factory Records - Unknown Pleasures - Joy Division - O lema punk "faça você mesmo" foi usado de formas diversas. Uns montaram bandas, outros lançaram fanzines, alguns passram a produzir shows e um outro grupo se arriscou até a lançar discos (fora os que fizeram tudo isso). Entre os selos ingleses surgidos entre 77 e 79 nenhum foi mais mítico que a Factory de Tony Wilson. Esse era um apresentador de televisão que ficou excitado com aquele cenário (assistam "A Festa Nunca Termina" para saber mais) e montou um selo para gravar as bandas de Manchester. Apesar da estrutura caótica e um método bizarro de trabalho Wilson acertou em cheio em algumas ocasiões. A maior delas foi com o Joy Division (que após o suicídio de Ian Curtis virou o New Order), mas também com o Durutti Column e mais pra frente os Happy Mondays que faliram de vez a gravadora.

Nirvana
Nirvana Bleach
Sub Pop - Bleach - Nirvana - A Sub Pop apresentou o "som de Seattle" para o planeta. Antes um fanzine feito por Bruce Pavitt, em 1986 ele se tornou o nome do selo que lançou os primeiros trabalhos de Soundgarden, Mudhoney, L7 e, claro, Nirvana que fez seu disco de estreia por lá. Esse álbum os levou à Geffen e ao megasucesso. O selo teve a sorte de fazer uma acordo garantindo uma pequena porcentagem sobre as vendas de Nevermind e o direito de também estampar seu logotipo na contracapa do cd. Esse dinheiro ajudou a comopanhia a se manter. Com a saturação do grunge a Sub Pop ficou meio esquecida apesar de ter lançado trabalhos importantes como o do Sunny Day Real Estate (os "pais do emo"). Hoje como parte da Warner o selo se reencontrou e tem entre seus contratados gente como os Shins, Fleet Foxes e os nossos Cansei de Ser Sexy.