Lil Percy MC
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Nos Becos do Paraíso

Lil Percy MC


O dinheiro é quem domina, quem determina
como o dia termina, como a vida vira
Capitalismo impera, fera
como segue o processo de enriquecer
sem esquecer a tristeza do pobre que é só poder ver
a felicidade de se viver na high-society e na nobreza
Num país onde socialites e duquesas
contrastam com as perolas da favela, que beleza
Distribuição de renda desigual cria quebradas
lotadas até o osso de pessoas que passam fome
pessoas que, depois que morrem
não vão passar de um nome
Só estatística pra quem não se importa
pra quem lê o jornal e nem se toca
que também é humano quem sofre do lado de fora
e é ignorado quando bate à sua porta
Pedindo um pão, pra alimentar a cria
que ta passando fome há dias
Porque o pai que foi pra farra
levou toda a economia
E a mae, andando com cinco filhos
é humilhada quando passa na calçada
levando um carrinho enferrujado
e a roupa toda rasgada pelas noites que vaga
procurando um jeito de a vida dar uma melhorada
sem ter que ser encarada com desprezo
e sem ser motivo de piada
Como essa mae queria... ela almeja todo dia
ter uma vida boa e ter um teto digno
sem passar vergonha, pra chamar de seu
sem clarear nas madruga aí
com a cabeça no breu
De cinco filhos, agora restam quatro
Um foi pro céu
porque quem falou mais alto foi a fome
Nem teve velório, nada de memorial
Enterro é pra quem come
não pra quem fica passando mal
Vida de muitos que vivem da cidade
e da cidade se alimentam
sem esperança, sem objetivo nenhum
O frio da madrugada acabou levando mais um
Três vidas pra cuidar, quem mal cuida de si mesma
Reúne os filhos na praça e faz o joelho de mesa
Diz "Deus abençoe" à alma que pagou sua refeição
Ainda que sem crença, mostra ter bom coração
Sem meta nenhuma, ainda tem fé na religião
Vai dormir, apóia a cabeça no braço, deita no papelão
Agradece à Deus, por mais um dia de vida
pede proteção nas ruas
e que nunca falte comida
Mas sabe que amanha a batalha pode tá perdida
Diz: "As vezes a vida não dá
mas a vida sempre tira. "
Junto com os filhos, passa por consumidores cegos
que assistem à tevês enormes em dia de folga
julga mimados e ricos, guiados pela moda
mas bem que ela também queria ser, é foda
Sábado, dia de baile, na madrugada tem confusão
Uma bala perdida acha o filho que não levanta do chão
Ela chora, agora, com um filho em cada braço
Sabe que agora vai faltar mais um pra dar um abraço
Na manhã que se segue, choro reinando
a familia incompleta, dia de chuva e luto
casacos pretos, parecia que o tempo sabia
que o tempo desse filho da rua seria curto
Ela nem tem mais fome, só ódio e rancor
Ousaram tirar dela quem ela criou com tanto amor
Uma mulher e duas crianças na rua alagada
Fim de semana acabando
tudo fechado, todos dentro de casa
vendo no noticiário o ocorrido na noite passada
"Um homem embriagado, atira quatro vezes
contra uma colega e seu namorado
Três corpos encontrados
Uma bala perdida matou um menino de rua
que dormia na frente de uma loja de calçados. "
A mãe, mais vazia que nos outros anos
Com seus dois filhos pequenos
chora com desejo de se vingar, com ódio infinito
do homem que tirou seu amado menino
Mais um pra ir morar no céu, com o Criador
pra quem ela pede forças pra superar essa dor
Sofre na noite que se forma, de um jeito corrosivo
Se lembra de quando dormia junto dos cinco filhos
abre um sorriso e tenta recriar o momento
abraça um e de repente um grito corta o silencio
Seu filho gelado e sem respiração
nem disse "adeus mãe, cuida bem do meu irmão"
E a sua única opção é seguir em frente
cuidar do que restou que o futuro à Deus pertence
Vivendo o agora, com o seu bem de maior valor
deixar um filho com fome não é demonstrar amor
Se humilha nas esquinas e pede auxilio
quer um prato de comida e que alguem adote seu filho
"Viver assim não da. Assim não passa de semana
adota ele por favor, dá a ele uma cama
Faz o que eu não consegui fazer
dar uma vida digna, a culpa não foi dele
ele não me pediu pra nascer
Não posso deixar ele ser miserável
ele precisa de uma vida mais confortável
Leva ele pra longe, leva ele pra casa
Vivendo na rua, ele de uma semana não passa
To sem comer há dias, quatro já morreram
Esse não vai ser assim, por favor, me prometam. "
E quase ninguém parou pra ver essa senhora
tava ficando tarde, a noite ia caindo
não tinha jantado nem alimentado o filho
O tempo era pouco, o que ela iria fazer agora?
Teve o menino nas maos, foi pro bairro nobre
onde os sortudos não sabem o que é ser pobre
Bateu na porta da mansão, se escondeu e pensou
"Pelo menos aqui meu pivete não sofre"
E tava lá, a diferença que define o Brasil
o rico agasalhado em casa
e o pobre na rua morrendo de frio
"Eu to com fome, tem um pedaço de pão velho, tio?
Qualquer coisinha serve pra eu comer
prefiro mastigar até cansar do que morrer
Ó só como eu to, ó só o meu braço
O povo de Brasília ta achando que eu sou palhaço
Não é possível, a minha vida é deprimente
Eu to pior que um animal, porque eu nunca fui gente. "
O velho rico, cheio de compaixão
mandou o menino entrar e deu um prato de macarrão
A melhor comida que ele podia imaginar
tinha esquecido o gosto de um bom jantar
Depois de comer ele disse que ia embora
O velho disse "não, pode dormir aqui hoje
Você vai congelar se ficar lá fora
Eu separo um colchão, se quiser pode ficar aqui
Meu filho tem muita roupa, alguma lá deve servir
Quero que você aceite, nem que seja pra dormir. "
O velho subiu a escada, o moleque foi na janela
Assobiou pra mãe pra conversar com ela
"Mãe, o moço deixou eu ficar, quer vim aqui também? "
"Não filho, você aí e eu aqui, vai ficar tudo bem. "
A mulher deu um beijo na testa, abraçou o menino
disse pra ele "se cuida, eu te amo meu filho
Eu vou dar uma volta, não sei se tem volta
Seja forte e digno, espero de você no mínimo isso
Onde estiver, eu vou me orgulhar
Sorria sempre e nunca se revolte
a vida só é fácil pra quem ta na maré de sorte
Você já é um homem e vai vencer na vida
Adeus meu filho, minha missão aqui foi cumprida
Desculpa não poder te dar uma vida de rei
Eu fiz o que eu pude com o pouco que eu conquistei
Eu te amo, meu moleque, vai ser feliz e tenha juízo
Talvez a gente se encontre nos becos do paraíso

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