Jorge Palma

Fátima

Jorge Palma


Tu vieste pelo elevador, vinhas do andar de cima
Se é que não estou em erro
Habitávamos o mesmo prédio e eu achei-te apenas atraente
Nessa altura as coisas íam mal entre a minha mulher e eu
Foi ela quem te convidou
Ou então foi um amigo comum e isso agora é indiferente

Sei que pouco depois a viagem que eu tinha andado a adiar
Se concretizou
Não chegamos a conher-nos bem, pelo menos nessa ocasião
Quando voltei dois anos mais tarde encontrei-te nas prais do sul
Estavas resplandescente
Com a vida a dançar-te no olhar ao mesmo tempo trágico e gozão

Há momentos flagrantes
Em que o tempo é eterno
Há vestigisos do verão
Que o outono não pode apagar
Há encontros que ficam
Na nossa memória
Onde a luz é difusa
Onde a vida e a morte não se querem separar

Ainda tenho presente um jantar em que havia mais gente
Mas não recordo quem
Entre o cheiro da sardinha e a loucuro do vinho sobresaiste tu
Porque a certa altura houve um gesto teu, uma frase ou uma canção
Provavelmente do alentejo
Foi isso mesmo, cantaste e o mundo ficou nu

E eu fiquei a saber de oude vens, tu saiste da cepa
Que a carne e o sangue veneram
Havias de achar muita graça se me ouvisses falar assim
Nós não descobrimos nada, dir-me-ias tu, está tudo descoberto
Até a rota do cabo
Vamos antes brincar ao gato e ao rato até ao fim

Há momentos flagrantes...

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