De manhã bem cedo ela acorda E se veste feito um despertador Recomenda que eu não perca a hora Se despede jurando seu amor Antes que eu responda ela abre a porta Chamando, apressada, o elevador Mas acaba descendo pela escada Depois de sapatear no corredor
Penso em voltar para a cama em disparada Para um resto de sono que ficou Mas pela fresta da porta encostada Reconheço a voz do zelador Que resmunga: -- A madame tá uma fera! Mais azeda que filme de terror! Se eu fosse o marido... Aí já era... Obrigado Jesus, meu protetor!
Ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai...
Quase sempre na hora do almoço Lhe espero pra gente comer junto Ela chega fazendo alvoroço E eu tentando entender qual é o assunto Ela às vezes é um poço de mistério Outras vezes a porta da cancela Quando falo brincando leva a sério Falo sério e aí nem me dá trela
No fim do expediente telefona Avisando que vai chegar mais tarde Se acho ruim, eu sou cafona E se fico na minha sou covarde Reclama que a casa ta uma zona E é a décima vez que ela me fala Faço as contas e brinco: -- É só a nona! E pra não explodir ela se cala.
Ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai...
No primeiro assalto brincalhona Chora, xinga bem alto desarmada Me põe ao nocalte eu beijo a lona Toda vez que ela chora eu baixo a guarda Quando peço de volta me abandona Quando insisto que não me pede calma Me encara com olhos de pidona E seus olhos lambuzam me alma