Eu sou paulista de conchas E adoro o meu estado Do tipo que eu fui carreiro Tive nome respeitado
Mas certo dia o destino Mudou toda a minha vida Por não encontrar serviço Só achei uma saída Vendi meus bois carreiro A um forte fazendeiro Na fazenda santa júlia
Me ajustei num matadouro Abatendo boi de corte Esta profissão ingrata Já mudou a minha sorte
Certo dia meu boi mestre Que tanto eu estimava Pra morrer nas minhas mãos Na minha frente parava Tirei ele da boiada E a ninguém disse nada A dor me dilacerava
No escritório da firma Pedi a conta na hora Um gerente da empresa Não quis me mandar embora
Contei toda a minha vida E ele até que chorava Mandou o boi pro pasto Não deixou ninguém matar Na fazenda da gairoba O boi teve vida nova E eu voltei a trabalhar
Daquele serviço ingrato Eu fui logo transferido E aquele homem bondoso Ficou sendo meu amigo
Depois afastaram ele Pra um setor diferente Em seu lugar veio um cara Sisudo e muito exigente Comigo não tem depois Vou matar aquele boi Pra festejar meus parentes
Mas justo naqueles dias Desregulou a balança Por isso aquela empresa Suspendeu toda a matança
Pedi para ir embora Conforme já pretendia Com a ajuda de um amigo Consegui o que queria Convenceu seu diretor E eu comprei aquele boi Com o fundo de garantia
Por dois anos mais ou menos Andei por toda a cidade Junto com o meu boi carreiro Voltou a felicidade
Por ele ser bem mansinho A criançada queria Montar em seu lombo E tirar fotografia Assim tive outra arte Novamente ele fez parte Do convívio da família
Mas um dia o boi morreu Quando eu chegava da feira Arrastei ele pra um canto Numa estrada boiadeira
Fiz uma cova profunda No alto do chão batido E junto com minhas penas Sepultei meu boi querido Que saudade ruminando Eu vou lá de quando em quando Chorar meu pranto sentido
Assim se foi aquele boi preto Boi de canga, mestre de lida Levando junto com ele Um pedaço de minha vida