Gilberto Gil

Jubiabá

Gilberto Gil


Negro Balduíno, belo negro baldo
Filho malcriado de uma velha tia
Via com seus olhos de menino esperto
Luzes onde luzes não havia

Cresce, vira um forte, evita a morte breve
Leve, gira o pé na capoeira, luta
Bruta como a pedra, sua vida inteira
Cheira a manga-espada e maresia

Tinha a guia que lhe deu Jubiabá
Que lhe deu Jubiabá
A guia

Trava com o destino uma batalha cega
Pega da navalha e retalha a barriga
Fofa, tão inchada e cheia de lombriga
Da monstra miséria da Bahia

Leva uma trombada do amor cigano
Entra pelo cano do esgoto e pula
Chula na quadrilha da festa junina
Todo santo de vida vadia

Tinha a guia que lhe deu Jubiabá
Que lhe deu Jubiabá
A guia

Alva como algodão e tão macia
Como algo bom pra lhe estancar o sangue
Como álcool pra desinfetar-lhe o corte
Como cura para a hemorragia

Moça Lindinalva, morta, vira fardo
Carga para os ombros, suor para o rosto
Luta no labor, novo sabor, labuta
Feito a mão e não mais por magia

Tinha a guia que lhe deu Jubiabá
Que lhe deu Jubiabá
A guia

Negro Balduíno, belo negro baldo
Saldo de uma conta da história crua
Rua, pé descalço, liberdade nua
Um rei para o reino da alegria

Tinha a guia que lhe deu Jubiabá
Que lhe deu Jubiabá
A guia

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