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Aprendendo Com Os Corpos Desfigurados

Carlos Eduardo Taddeo

A Fantástica Fábrica de Cadáver


Cada resquício de osso no cemitério improvisado
Tem um macabro valor didático
Sem escola o aprendizado é no abrigo, no Caps
Na caixa de papelão, Cdp, Dp, Cohab
Recortar Mini One atrás da parede anti ruído
É a Fatec, Etec do mundo verídico
A científica no condomínio é o corpo docente
Que ensina porque cu de Malibu da marmitex quente
É melhor oferecer migalhas pro mendigo
Do que ele arrancando à faca chip subcutâneo do filho
Desculpa Louis Armstrong em te corrigir
Mas não existe nenhum planeta maravilhoso aqui
Cursamos a faculdade da medicina aprendida
Nos orifícios dos disparos da polícia
Onde a matemática não adiciona a digital no spa
Quando o homicida for usar ouro pra se embelezar
Onde a matemática é somar comentário de arrombado
Que aprova menor no poste depois de espancado
Dez na matéria não compra o discurso esbranquiçado
Não joga o crísio na conta do marginalizado
Não é o mano de rifle ou que se dá do nosso cancro
O problema não é quem assalta, mas quem constrói o banco
Quando levantes e abolicionistas não são estudados
Só sobra o Abc da Mauser pra ser decorado

Na escola da vida o material didático
Sangra embaixo do jornal com rosto desfigurado
Na escola da vida o material didático
Tá na tranca da prisão e no Bum no endinheirado

O moleque sem acesso a cultura básica
Se torna grão-mestre Nine-nine em pasta
Recebe certificado em contabilidade
Pra administrar o atacado da cidade
Assim nasceu a Camorra, os Cartéis mexicanos
A Mara Salvatrucha, os Sindicatos venezuelanos
Aprendi que aqui democracia é carnificina
Que os crimes hediondos são cometidos pela polícia
Que os livros escolares são pra emburrecer
E a venda de pinos é opção pra sobreviver
Hoje sei que 500 mil vão pras grades
Pra que não cobicem os cargos altos da sociedade
Que toda cracolândia é obra governamental
Entorpecido não faz mobilização social
Caminhe comigo pelo jardim do extermínio
Onde a árvore do saber só tem fruto proibido
Onde o filho da diarista só aprende a sonhar
Em ser o preso que dobre o corpo de agente pra escoltar
Ou a fazer performance teatral no bingo
Fingir que eu sou cliente e esvazio o caixa sorrindo
No 157 ganhamos o Bacharelado
Pra depois no quadrilátero garantir o Doutorado
Aqui quem mata e não cagueta consegue o Mba
Assinada pelas Ar15 pintada com tinta spray

Na escola da vida o material didático
Sangra embaixo do jornal com rosto desfigurado
Na escola da vida o material didático
Tá na tranca da prisão e no Bum no endinheirado

Sou inimigo público porque uso caixa e bumbo
Pra afirmar que ainda vigora os anos de chumbo
Por que quero num freezer como um picolé da Kibon
Os que seguem a bíblia de Donadon
O sangue no brochura reaproveitado
Instrui que o bullying vem no Sedex televisionado
A programação induz a desprezar a pele escura
O deficiente, o que tem mais gordura
Enquanto usamos conhecimento pra raspar numeração
Negam cotas pros herdeiros da escravidão
Permitimos que o alvo da policia repressiva
Não exista geneticamente pra política afirmativa
Quando a favela parar de ouvir sobre Armagedom
O dominante pode abrir suas safras de Chandon
Esse dia vai ser igual quando a Cia
Silenciou negros americanos com heroína
Não importa o alto calibre do nosso arsenal
Se a educação gera Igualdade Social
Se é ensino erradicar as leis Jim Crow do brasil
Que veda a entrada em bairros pro nosso perfil
Já mergulharam ácido no cianureto
Pra adaptar uma câmara de gás no seu endereço
A dica pra adiar sua estréia no mapa das decapitações
É seguir as instruções deixadas pelos caixões

Na escola da vida o material didático
Sangra embaixo do jornal com rosto desfigurado
Na escola da vida o material didático
Tá na tranca da prisão e no Bum no endinheirado

Letra enviada por Flavio Cabral

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