Caetano Veloso

Merda

Caetano Veloso


Nem a loucura do amor, da maconha,
Do pó, do tabaco e do álcool
Vale a loucura do ator quando abre-se em flor
Sob as luzes no palco

Bastidores, camarins, coxias e cortinas
São outras tantas pupilas, pálpebras, retinas
Nem uma doce oração, nem sermão,
Nem comício à direita ou à esquerda
Fala mais ao coração
Do que a voz de um colega que sussurra merda

Noite de estreia, tensão, medo,
Deslumbramento, feitiço, magia
Tudo é uma grande explosão, mas parece que não
Quando é o segundo dia

Já se disse não foi uma vez, nem três, nem quatro
Não há gente como a gente, gente do teatro
Gente que sabe fazer a beleza nascer pr'além de toda perda
Gente que pôde entender
Para sempre o sentido da palavra merda

Merda, merda pra você, desejo merda
Merda pra você também, diga merda e tudo bem
Merda toda noite e sempre, amém.

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