(“Você estrada de asfalto, já foi estrada de terra Vou caminhando sozinho por suas curvas e serras Contemplando os arvoredos Que florescem logo cedo nas manhãs de primavera
Deixa eu sentar-me ao seu lado Relembrar aqueles dias que aqui passavam boiadas E de longe a gente ouvia o repicar de um berrante Em muitas léguas distante o seu eco repetia
Depois veio o negro asfalto, cobrindo tudo no chão Areia, terras e gramas e os rastros do caminhão Cobrindo sinais deixados Pelos cascos afiados do meu cavalo alazão
Você estrada de asfalto, hoje é estrada criminosa Quantos já perderam a vida em suas curvas perigosas É o progresso que chegou E só saudade deixou daquela era saudosa
A boiada que seguia ao toque do berranteiro Pra atravessar um estado demorava o mês inteiro Hoje vai em poucas horas Com os bois numa gaiola que é o expresso boiadeiro
Motoristas, tenham calma, não atravessem a lombada Cuidado com a neblina e com as curvas fechadas Não confiem só na sorte Pra que haja menos morte, menos cruzes na estrada
Vai negra estrada de asfalto os problemas carregando Pessoas que vem de longe, uns sorrindo, outros chorando Outros que não voltam mais Porque deixou para trás alguma mão acenando
Pessoas que vem de longe trazendo na alma a esperança Outras que partem levando no coração a lembrança Mil emoções diferentes Que vai na alma da gente e aumentando mais na distância
Eu, contemplando esta estrada de curva, serras e subida Me lembro que tenho na alma uma estrada parecida Por onde passou meus anos De amargura e desenganos na longa estrada da vida
Duas viagens já fiz nessa estrada no passado Nos braços de minha mãe quando eu fui batizado E depois, na mocidade Levei meu bem pra cidade, de lá voltamos casados
Falta a última viagem, que um dia deve chegar É a viagem derradeira de quem vai pra não voltar E lá no fim da estrada Na minha eterna morada vou pra sempre descansar