Dia 31 de Janeiro de 2010 - Estádio do Morumbi - São Paulo
Por Leandro Saueia
Metallica O guitarrista e vocalista James Hetfield durante show no Morumbi (Foto: M. Rossi)
Metallica no Brasil? Devo confessar que a princípio não me animei muito com a notícia. Afinal já tinha visto a banda em 1993 e hoje 16 anos mais velho confesso que ando com os ouvidos um tanto quanto cansados para esse tipo de som.
Mas com a fama de que eles são bons de palco ainda persistindo (o que era de se esperar de um grupo que excursiona à exaustão mesmo sem precisar), os set lists formados em 80% de músicas dos cinco primeiros discos e com o recente "Death Magnetic" se mostrando de fato um retorno aos velhos tempos, o programa parecia valer a pena mesmo para quem não era fã de carteirinha da banda ou de heavy-metal.
Algumas horas antes, a banda apareceu para uma rápida coletiva onde também receberiam os discos de ouro e platina pelas vendas dos últimos cd e dvd. Cansados e monossilábicos, eles por pouco mais de dez minutos responderam às questões sem muito interesse e pareciam querer estar em qualquer lugar menos ali. Será que a banda pisaria no palco naquele clima? Era esperar e torcer para que não.
Quando as luzes se apagaram, uma hora após o bom show de abertura do Sepultura, o estádio foi inundado pela música de Ennio Morricone e os telões exibiram a cena mais marcante de "Três Homens em conflito" de Sergio Leone (antes ainda os PAs tocaram "Heavy Metal Thunder" do Saxon). A sensação era a de que uma noite épica se aproximava e a abertura com "Creeping Death" e "For Whom The Bell Tolls" ambas de 1984 acompanhadas por 70 mil punhos levantados, confirmaram a suposição. Os quatro caras que há pouco tempo demonstravam aparente má vontade já tinham dado lugar a um grupo bem entrosado e com visível paixão pelo que fazem.
Nas mais de duas horas seguintes o grupo praticamente só tocou músicas lançadas entre 1983 e 1991, além de algumas canções do mais recente disco. Ao deixarem de lado as faixas dos álbuns lançados após o "Black Album", a banda deu dois sinais: o de que o "novo" Metallica está muito próximo do "velho" ? tanto que ao vivo as canções novas soam muito próximas das antigas e de que eles mesmo parecem assumir que discos como "Load" e "St. Anger" hoje não passam de desvios estilísticos, experimentos que não deram muito certo.
O show da banda é basicamente homogêneo, com músicas bastante velozes e poucas pausas para respiro (frequentemente eles emendam as canções uma atrás da outra). Esses acontecem nas faixas lentas como "Fade To Black" e "One" (ambas entre as mais aplaudidas da noite, mostrando que mesmo os metaleiros mais radicais curtem uma balada para acender isqueiros e celulares) e nos grandes hits como "Sad But True", essa dedicada aos "nossos amigos do Sepultura".
Metallica O baterista Lars Ulrich do Metallica (Foto: M.Rossi)
Se para ouvidos menos acostumados a parte central do show, onde entram as músicas novas, cansa um pouco, a sequência final com "One" (anunciada com fogos e sons de tiros), "Master Of Puppets" (com o público "cantando" o solo de guitarra) e "Blackened", espantam o tédio rapidamente. Quando eles arrebatam com "Nothing Else Matters" e "Enter Sandman" (como essa música ainda é poderosa, especialmente ao vivo) Ulrich, Hetfield, Hammet e Trujillo já haviam conquistado de vez todos ali.
Nessa turnê a banda sempre volta para o bis tocando uma cover, "para homenagear aqueles que ajudaram a banda a ser quem ela é". O escolhido da noite foi o Queen e sua "Stone Cold Crazy". Para fechar a noite mais duas porradas das antigas: "Motorbreath" e "Seek And Destroy" - outra que continua poderosíssima. Para terminar o "momento Roberto Carlos" com todos eles distribuindo palhetas, baquetas e aplausos por minutos a fio para os fãs, que saíram dali certos de terem presenciado um daqueles momentos para se lembrar a vida toda.